A desorganização do sistema internacional liderado pelos ocidentais é o fato estrutural de política internacional mais importante do nosso século.
Para a absoluta maioria dos chamados países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, o sistema internacional liberal estabelecido após 1945 de pouco serviu para que suas posições estruturais no plano internacional fossem alteradas.
O que acabo de afirmar não é nenhuma novidade: o mundo pós 2ª guerra mundial consolidou relações internacionais baseadas na competição, dentro da qual não há espaço para o desenvolvimento de todos os países.
Para que alguns sejam ricos e desenvolvidos, outros necessitam ser pobres e subdesenvolvidos (ou em via de desenvolvimento).
Poucos países, como a China e a Rússia, conseguiram adaptar-se ao sistema liberal internacional, de modo que hoje gozam de capacidades econômico-financeiras-militares de desafiar o poder internacional centrado no Ocidente.
Esses países também se colocam como líderes na criação de novas instituições internacionais, dentre as quais se destaca o BRICS+.
O grupo, originalmente constituído por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, conta hoje com novos membros, sendo o Irã o de maior relevância, e reforça seus objetivos de alterar a governança global e construir uma sociedade internacional de desenvolvimento mútuo.
Mais do que nunca, o BRICS+ é percebido como um bloco de poder antiocidental, porque, de fato, o é.
A existência de um banco destinado a financiar projetos de desenvolvimento e infraestrutura com taxas de juros e condições de pagamentos vantajosas (o Novo Banco de Desenvolvimento) e os esforços para a criação de um mecanismo de pagamento alternativo ao dólar (processo conhecido como desdolarização da economia) fazem brilhar os olhos daqueles Estados que, por décadas, veem-se sufocados pelas condicionalidades e limites impostos ao seu desenvolvimento pelas instituições ocidentais.
Para países como o Brasil, que enfrenta uma série de desafios de desenvolvimento doméstico ao mesmo tempo que goza de enormes potencialidades num contexto de transição produtiva global, o BRICS+ se configura como a alternativa prática e efetiva para uma reformulação de sua inserção internacional.
Não se trata de reproduzir de maneira descuidada prática e discurso da época da bipolaridade mundial, quando o Brasil afirmava categoricamente pertencer ao bloco ocidental, mas buscava, ao mesmo tempo, alimentar suas relações comerciais com o bloco soviético.
Trata-se de entender que, no plano internacional, o bloco de poder que se constrói em torno dos BRICS+ é a alternativa que pode produzir ganhos efetivos de acordo com os melhores interesses da sociedade brasileira.
Citemos, por exemplo, as possibilidades de investimento que as novas instituições internacionais possibilitam em infraestrutura, mobilidade urbana, sustentabilidade e transição energética, áreas de grande gargalo e potencialidade de desenvolvimento em nosso país.
Ademais, é em torno do BRICS+ que se aglutinam os principais interessados na reformulação da governança mundial com vistas à promoção de maior equidade entre as nações, agenda buscada pela diplomacia brasileira desde o século passado.
O BRICS+ se constitui, diante das possibilidades internacionais à nossa disposição, como a melhor das alternativas de alinhamento naquilo que for do interesse comercial, financeiro e de desenvolvimento doméstico.
Não podemos, contudo, cultivar a falsa crença de que nossos problemas e deficiências serão resolvidos graças à ajuda externa.
Os países são dirigidos por interesses próprios e buscam, por meio de seu relacionamento externo, consolidá-los.
Devemos, então, orientar-nos pelo desenvolvimento de nossas capacidades econômicas, financeiras, militares e diplomáticas próprias.
Não devemos esperar que uma “mão amiga” venha salvar-nos, mas devemos nos valer, tanto quanto possível, das possibilidades que as relações internacionais nos dão, ao mesmo tempo, em que trabalhamos para a construção de uma ordem internacional favorável a nossos melhores interesses.