Em 2025, nenhuma toada ecoou tão forte nas ruas de São Luís quanto “Sentimento Profundo”, do Boi da Maioba.
Foi o grito que uniu gerações, o refrão que tomou as redes sociais, o verso que fez milhares de maiobeiros se arrepiarem de emoção sob o céu junino.
E no centro disso tudo, um nome: Jorsenilo Ferreira Júnior, o Juninho, o “xodó do povo” que, com sua voz e alma gigante, transformou uma simples toada em hino eterno.
No próximo dia 6 de dezembro, quando o Boi da Maioba encerrar a temporada 2025 com a tradicional festa de confraternização, Juninho levantará o maracá mais uma vez para cantar junto:
“O sentimento profundo / Esse amor absurdo / Faz meu peito doer…
O Boi da Maioba não nasceu ontem. São 128 anos de história forjada no som dos pandeiros e matracas, na inspiração dos grandes cantadores e na devoção de um povo que carrega a cultura boieira no sangue.
Mas foram as três últimas gerações que deram alma definitiva a esse batalhão pesado da ilha.
Primeiro, João Chiador, o mestre dos mestres. Por 32 anos ele comandou a frente do grupo com uma autoridade que ninguém ousava questionar.
Deixou escola, deixou discípulos, deixou um legado que até hoje faz qualquer maiobeiro mais velho fechar os olhos e ouvir aquela voz trovejando nas noites juninas.
Depois veio Chagas, o encantador de trupiadas. Foram 25 anos de pura magia. Seu estilo inconfundível, aquela mistura de doçura e força, de melodia e grito, ainda pode ser ouvida hoje na terra do Santo Padroeiro, São José de Ribamar.
E agora, nos últimos três anos, surge Juninho. Não é exagero dizer que ele é o maior fenômeno maiobeiro da atualidade.
Com um quadro de cantadores talentosos, o Boi da Maioba poderia se dar ao luxo de dividir os holofotes. Mas o povo escolheu. E escolheu Juninho. Porque ele não canta para a plateia. Ele canta o que a plateia sente.
“Sentimento Profundo” não é apenas uma toada. É um hino de amor comunitário. Cada verso é um tijolo na construção de um pertencimento que não explica, apenas sente.
“O sentimento profundo / Esse amor absurdo / Faz meu peito doer.” Aqui está a chave: o amor pela Maioba é absurdo. Não cabe na razão. É maior que a lógica. É um amor que dói no peito porque é feito de saudade, de orgulho, de memória, de luta.
“És uma dor tão feliz / Pois é minha raiz / Minha razão de viver.” A contradição é linda: dor feliz. Porque ser maiobeiro não é só festa. É carregar o peso de uma tradição que resiste ao tempo. Mas é uma dor que vale a pena. Porque a Maioba é raiz. É razão de viver.
“A roseira mais cheirosa, mais gostosa desse lugar.” A Maioba não é só uma localidade da região metropolitana de São Luís. É uma roseira viva. Cheia de espinhos, sim, mas perfumada como nenhuma outra. É bela, é forte, é única.
“É paixão que invade o peito, não tem jeito o jeito é te amar.” Não tem escapatória. Quem nasce maiobeiro não escolhe. É escolhido. A paixão invade, toma conta, não pede licença. O jeito é amar até doer.
“Maiobeiro verdadeiro fecha os olhos, começa a cantar.” Esse é o momento sagrado. Fechar os olhos não é desatenção. É entrega total. É fé. É deixar o corpo aqui e navegar com a alma.
“Meu mundo é Maioba, respiro Maioba.” Não é metáfora. É verdade nua e crua. Para o maiobeiro de raiz, o ar que entra no pulmão tem cheiro de cultura de um mundo que começa e termina na Maioba.
“Não nego em dizer, sou maiobeiro até morrer.” Esse é o juramento. Não é moda. É identidade eterna. É dizer pro mundo: “Podem tirar tudo, menos isso aqui que carrego no peito.
Quando Juninho cantar “Sentimento Profundo” pela última vez em 2025, não será um adeus. Será um até breve. Porque a Maioba não morre. Ela se reinventa a cada geração.
Porque o sentimento é profundo. Porque o amor é absurdo. Porque a dor é feliz. E porque, no fundo, todo maiobeiro sabe que a Maioba não é apenas um lugar, é um estado de alma.

