O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que será iniciado nesta terça-feira 02), é mais do que um processo jurídico; é um cabo de guerra que estica as frágeis cordas da democracia brasileira.
De um lado, a acusação de tentativa de golpe de Estado, sustentada por uma minuta golpista e a delação de Mauro Cid, busca punir atos que teriam ameaçado a ordem democrática após as eleições de 2022.
Do outro, apoiadores de Bolsonaro denunciam uma perseguição política implacável e orquestrada por um STF enviesado, apontando a escolha da semana da pátria como uma provocação deliberada para confinar à cadeia um ex-presidente e militares de alto coturno.
O processo, que envolve alem de Bolsonaro, figuras como os generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, o almirante Almir Garnier Santos, o ex-ministro Anderson Torres, o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem e o tenente-coronel Mauro Cid, ocorre em um momento carregado de simbolismo: a semana da pátria.
A escolha da semana da pátria, reacende debates acalorados, com acusações de provocação e vingança, enquanto a polarização política no país atinge níveis alarmantes.
Esse embate, carregado de simbolismo em torno do 7 de setembro, expõe uma polarização que divide a sociedade e tensiona as instituições a um ponto perigoso, onde a confiança no sistema democrático começa a se desgastar.
Assistir a esse confronto é como observar um cabo prestes a romper, com cada lado puxando com força desmedida, sem disposição para ceder.
A esquerda celebra o julgamento como um marco de fortalecimento das instituições, enquanto a direita o enxerga como um ataque à liberdade e à soberania popular.
Nas redes sociais, como o X, a retórica inflamada de ambos os lados amplifica o ódio: de um lado, hashtags como “In Fux We Trust” ecoam entre bolsonaristas; do outro, defensores do STF exaltam Xandão e a punição aos “golpistas”.
O simbolismo da data, coincidindo com o 7 de setembro, um feriado que Bolsonaro usou para desafiar o STF em 2022, alimenta a narrativa de vingança mútua.
Essa escalada retórica obscurece o debate sobre os fatos e transforma o julgamento em um espetáculo televisivo de poder.
O risco maior, porém, não está no desfecho do julgamento, mas no que ele revela sobre o estado da democracia brasileira.
Cada puxão nesse cabo de guerra, seja uma condenação percebida como injusta ou uma absolvição vista como impunidade, pode aprofundar a desconfiança nas instituições e alimentar a radicalização.
A democracia, que depende de consenso mínimo e respeito mútuo, está sendo testada por uma polarização que transforma adversários em inimigos.
O Brasil corre o risco de ver o cabo romper, deixando cicatrizes que podem levar anos para curar.