O ministro da Justiça Flávio Dino (PSB) que deixará o cargo para assumir a partir de fevereiro a toga de ministro vitalício do Supremo Tribunal Federal, acreditava que poderia lacrar em seu lugar o número 2, Ricardo Cappelli.
Já Cappelli, por sua vez, nutria o sonho de como ministro da Justiça, teria pela frente um caminho mais pavimentado para se viabilizar para a disputa da cadeira numero 1 do Palácio do Buriti, em 2026. Esse era o plano.
No entanto, Dino e Ricardo Cappelli se depararam com uma dura realidade: não deu jogo.
Em 1 de fevereiro Dino deixará a Esplanada com a única certeza que terá direito de apenas vergar a toga da Suprema Corte com endereço no outro lado da rua.
Dino acalentava o sonho de ser candidato à presidência da república. O PT fez todo esforço do mundo para tirá-lo da jogada. Conseguiu com ajuda de Lula.
No entanto, para quem conhece a trajetória do ex- governador do Maranhão a política corre nas veias mais do que o sacerdócio do Judiciário.
Basta olhar para trás. Flávio Dino foi juiz federal, mas preferiu deixar a magistratura para encarar um mandato de deputado federal com a ajuda do ex-governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares. Os dois não se bicam.
Daí foi um pulo para se tornar governador por oito anos com a promessa de melhorar o IDH (Indice de Desenvolvimento Humano) da população mais pobre do país, mas não cumpriu. Parte da população continua na extrema pobreza.
Mesmo assim, em 2022, Dino retornou ao legislativo como senador em cima do discurso anti bolsonarista e defensor da candidatura de Luís Inacio Lula da Silva.
Na velocidade da luz se tornou o ministro mais visível e mais poderoso do governo petista a frente do Ministério de justiça e da segurança pública.
Uma ameaça real ao projeto de Poder do PT que deseja se perpetuar no comando do país em 2026.
Com a ajuda de Lula, o Partido dos Trabalhadores conseguiu apear Dino no Supremo Tribunal Federal.
Já era de se esperar que Flávio Dino, o ministro mais espaçoso do governo, perderia força logo que passasse pelo crivo do Senado, como indicado de Lula ao STF. Foi o que aconteceu.
Frenéticas articulações começaram a ser feitas pelas várias facções do PT para emplacar um sucessor que não tivesse nenhuma ligação umbilical com Dino.
Apesar das tantas movimentações nos bastidores pela ocupação do posto, coube ao próprio Lula nomear o ministro aposentado do STF, Ricardo Lewandowski.
A escolha não foi quem Dino queria. Ele queria Cappelli. Pode ter troco. Quem o conhece e a depender do cenário político futuro, o ousado Flávio Dino pode jogar a toga de lado e com a ajuda dos “capas-pretas” anunciar a candidatura a presidência da República.
Com tanta força que tem pelo ativismo político de seus pares o Poder Judiciário do Brasil poderá ter um candidato que pode chamar de seu.Que o PT não duvide disso.
Já Cappelli vive um momento de incertezas. O desempregado em férias, recebeu nesta sexta-feira(12), o convite para ser o representante do governo do Maranhão em Brasília, cargo ofertado pelo governador Carlos Brandão por onde ele passou em 2021.
O órgão é um desses penduricalhos sem serventia alguma criado apenas para abrigar apaniguados na capital federal.
Nos últimos 22 dias até o anúncio de Lewandowski, Ricardo Cappelli atuou como ministro interino da Justiça e Segurança Pública. Havia trabalhado intensamente para entrar nos planos do governo e se efetivar no cargo.
Achava que poderia ser recompensado pela sua luta no campo de batalha, como um general de brigada, durante o conflito do 8 de janeiro. Seria injusto se não houvesse tal reconhecimento.
No período que esteve como ministro interino, o número 2 de Dino sondou o PSB sobre a possibilidade de liderar o partido no DF e emplacar a sua candidatura ao Palácio do Buriti.
O movimento foi percebido pelo PT local que passou se armar com paus e pedras contra o afoito e pretensioso personagem. E tome pedrada na Geni.
Na quinta-feira (04), Cappelli entregou, com direito a discurso, 20 veículos, quase 100 armas e mais de 3.800 cartuchos de munição para as forças de segurança local, em cerimônia realizada no Palácio do Buriti.
O valor investido nas doações foi de R$ 3,6 milhões. Os petistas não foram convidados para a festa. Ficaram putos.
Na sexta-feira, um dia antes da celebração comemorativa sobre dos episódios de 8 de janeiro, a primeira-dama Rosangela da Silva gravou um vídeo mostrando as buraqueiras da Praça dos Três Poderes e culpando o governo do Distrito Federal.
Mal sabendo ela que o referido logradouro para receber qualquer reforma precisa da autorização do IPHAN (Instituto do Patrimonio Histórico Nacional), uma providência solicitada desde 2016 e que até hoje o presidente do Iphan, Leandro Grass, por birra politica, não autoriza.
Como resolveu assumir o papel de interlocutor entre a União e o GDF, Cappelli se adiantou a anunciar em suas redes sociais que o governo local havia garantido que a praça seria recuperada. Rosangela da Silva não gostou de ser desmentida. Cappelli caiu.
*Toni Duarte é Jornalista e editor do Radar-DF, com experiência em análises de tendências políticas e comportamento social da capital federal. Siga o #radarDF