Quando o governador Ibaneis Rocha (MDB) foi afastado sob a acusação de ter participado dos eventos do dia 8 de janeiro, o presidente Luis Inácio Lula da Silva acreditava que o emedebista jamais retornaria ao posto que havia conquistado no primeiro turno das eleições de 2022.
A primeira medida de Lula foi intervir nas forças de segurança com Ricardo Cappelli (PSB), o número 2 do então ministro Flávio Dino (PSB), durante sua passagem pelo Ministério da Justiça.
A tática de dominar as forças de segurança de um Estado é o primeiro passo para uma intervenção se o plano era tomar o controle total do Buriti, de acordo com os objetivos ocultos do governo petista.
Mas Ibaneis voltou ao cargo, após as investigações da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria Geral da República concluírem que o governador do DF não teve nenhuma responsabilidade pelos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro.
Não havia mais motivos para manter o governador longe do Palácio do Buriti, de onde se ausentou por 60 dias.
No entanto, o Planalto continuou a lançar acusações irresponsáveis, como fez o presidente da República ao participar de um documentário intitulado “8/1: A Democracia Resiste”, produzido pela GloboNews.
Surgiu a ideia de ressuscitar a maléfica proposta de emenda à Constituição (PEC), de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentada no apagar das luzes de 2022.
Randolfe propôs a extinção do Fundo Constitucional do DF, verba repassada pela União, desde 2002, para a manutenção da segurança e custeio da saúde e educação na capital do país. A tentativa não prosperou.
O governo, então, buscou outros meios para ferir de morte a autonomia financeira do Distrito Federal e punir a população do DF pelos atos do 8 de janeiro.
Contou com a ajuda do deputado Cláudio Cajado (PP-AL), relator da proposta de novo marco fiscal, que fez a manobra de enfiar o FCDF como um “jabuti” escondido no texto do arcabouço fiscal.
Mas não foi dessa vez que Lula conseguiu êxito na sua investida de perseguição contra o povo do DF.
O Fundo Constitucional foi resguardado pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), relator do marco fiscal no Senado.
“Vou manter o que o governo mandou originalmente. Não estava o fundo constitucional no arcabouço. Só voto ao que o governo havia proposto. Essa questão de tirar dinheiro do estado para custeio de pessoal, eu sempre fui muito preocupado com isso, já fui governador”, disse na época. (Veja aqui).
Agora, a autonomia financeira do DF está ameaçada novamente com a inclusão do FCDF no pacote de cortes de gastos do governo, aprovado na quarta-feira (04) pela Câmara dos Deputados.
Se o pacote for aprovado sem alterações, Lula atingirá seu objetivo em relação à população do Distrito Federal.
A extinção ou alteração da autonomia financeira do DF, assegurada pela Constituição de 1988, pode ter impactos diversos, diretos e indiretos.
Saiba por quê:
O FCDF financia a Polícia Militar, os Bombeiros e a Polícia Civil do DF.
Com um corte pela, ainda que seja pela metade, a manutenção da segurança será comprometida, levando a uma eventual redução da eficiência, precarização dos serviços e aumento da criminalidade.
O Fundo também arca com uma grande parte das despesas relacionadas à saúde e à educação.
A sua extinção poderia causar uma redução nos investimentos em escolas e hospitais públicos, além de demissões ou atrasos nos pagamentos de professores, médicos e outros profissionais.
A população do Distrito Federal é diversificada, com regiões administrativas extremamente dependentes dos serviços públicos financiados pelo FCDF.
A perda de recursos vai acentuar desigualdades entre áreas mais favorecidas, como o Plano Piloto, e periferias carentes, como Ceilândia, Samambaia e Sol Nascente, por exemplo.
As greves e a violência poderão se espalhar por todos os cantos, inclusive na porta dos Três Poderes.
O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta no conceito de que quanto pior, melhor.
Na quarta-feira, a militância da CUT, organização de esquerda ligada ao PT, se reuniu no Conic para alimentar a política da terra arrasada.
São esses movimentos de Lula que fizeram Ricardo Cappelli, apoiado por Flávio Dino e por Rollemberg, anunciar que é candidato ao Buriti, mesmo sabendo que não tem votos nem estofo político para isso.
Ademais, ninguém gosta de inventores que são figuras desconhecidas saltadas de paraquedas e que arrotam arrogância como o próprio Capelli.
O anúncio precoce dessa candidatura pode ser apenas pano de fundo para se conectar com o próximo passo de Lula: o de tentar decretar intervenção federal contra a autonomia política do DF. Este é o plano do golpe.