Aos 87 anos, José Alberto já não participa com a mesma frequência de antes, mas sua presença permanece forte na memória dos boeiros da ilha e na alma dos arraiais juninos de São Luís.
A trajetória de 50 anos de cantoria de Zé Alberto está entrelaçada com a história do bumba-meu-boi de São Luís, especialmente no sotaque de matraca, característico da capital maranhense.
Do Boi do Anil ao Boi de Iguaíba, o ex-matraqueiro da Maioba percorreu diversos grupos, levando consigo a energia contagiante que fazia os cordões de rajados, índias e caboclos de pena rodopiarem até o amanhecer.
Sua voz, descrita como grave e poderosa, era capaz de unir a multidão em um só coro.
Ao longo de cinco décadas, José Alberto, o “Leão Devorador”, compôs mais de 200 toadas que enaltecem a cidade de São Luís, sua rica cultura e sua beleza singular.
Entre suas criações, destaca-se “São Luís, Cidade dos Azulejos”, uma composição de sua autoria que se tornou um hino na voz do saudoso cantador João Chiador, eternizando o amor pela capital maranhense e sua identidade cultural nos arraiais do bumba-meu-boi.
Mesmo com a passagem do tempo, o “Leão Devorador” nunca se afastou completamente do bumba-boi.
Refuta com veemência os rumores de aposentadoria:
“Não admito o que falam por aí, que já encerrei a minha carreira. Cantador, encerra a carreira cantando e pede que sejamos cantadas as suas toadas quando partir para a sua última morada.”
Essa determinação revela o espírito de um poeta que mistura melodia e versos, pontuados por um maracá, que fez quebrar as barreiras das proibições e preconceitos enfrentados por uma manifestação cultural no passado recente.
Nesta segunda-feira (30), Dia de São Maçal, quando dezenas de batalhões pesados da ilha desfilaram pela avenida do João Paulo, lá estava ele, com toda a indumentária que lhe pertence, mesmo que de longe, acompanhando o espetáculo que ajudou a construir e celebrar.
O encontro dos grupos do João Paulo, que se aglomeram durante todo o dia é uma celebração grandiosa que marca o encerramento do ciclo junino.
Para o velho cantador, é uma espécie de despedida simbólica, mas nunca um adeus definitivo.
“É aqui que a resistência cultural do Maranhão se manifesta com o vigor do povo, definiu.
Para Zé Alberto, cada batalhão que passa é um lembrete de sua própria jornada:
“Eu vejo esses bois, essas cores, essas vozes, retroajo ao tempo em que tinha meus vinte e poucos anos. O boi é a minha vida, e enquanto eu respirar, ele vai estar comigo.”
O legado do “Leão Devorador” não ficará apenas em seus versos transformados em belas toadas, mas como símbolo da resiliência e força da cultura maranhense.
Imagem do dia: Rui, Luis Gonzaga Duarte, Zé Alberto e Irenilde