Como o grupo extremista muçulmano autodenominado Estado Islâmico radicaliza jovens muçulmanos pela internet?
A experiência de um adolescente britânico, que alega ter rechaçado as investidas do EI, revela táticas similares às de grupos que tentam disseminar a anorexia e a autoflagelação.
Sajid abriu uma conta falsa no Twitter cerca de um mês após seu irmão Arshad desaparecer. Arshad nunca tinha exibido sinais de radicalização ou mesmo interesse específico na guerra civil da Síria. Mas as evidências estavam lá: a cama do irmão estava vazia e seu passaporte tinha desaparecido. E seu histórico de buscas na internet mostrava uma grande quantidade de conteúdo relacionado ao grupo radical.
Mais tarde, Sajid foi contactado por seu irmão – que a essa altura já estava na Síria e contou que, assim como centenas de outros jovens britânicos, tinha decidido se juntar à guerrilha do EI.
Mas Sajid queria saber mais. Usando um nome falso árabe, que ele pegou de um programa de TV, começou a fazer buscas no Twitter usando os termos Isis (a sigla utilizada em inglês pelo Estado Islâmico) e Síria, além de seguir contas associadas ao grupo.
Revanche
Imediatamente ele começou a ser seguido por um “fã” dos extremistas. Trocaram algumas mensagens antes de Sajid fazer o log off para cuidar de sua lição de casa da escola.
Duas horas mais tarde, quando voltou ao Twitter, Sajid já acumulava 5 mil seguidores. Depois de mais alguns bate-papos, ele começou a conversar mais regularmente com seis usuários. Alguns estavam na Síria e outros se diziam adeptos do EI no Ocidente. Apesar de Sajid dizer que condenava as ações do irmão, os interlocutores se mostravam extremamente compreensivos.
“Nenhum deles me pediu para ir à Síria ou mesmo apoiar o Estado Islâmico. Foi algo chocante, pois esperava que me pressionassem. Eu ainda não sei por que não me pediram apoio”, contou Sajid à BBC, por meio de uma conversa eletrônica.
A experiência do jovem contrasta com o que se supunha sobre as atividades de recrutamento do EI: a de que seus agentes estariam online à espreita para assediar jovens inocentes, ao estilo de pedófilos ou fraudadores.
O cenário descrito por Sajid tem menos a ver manipulações sinistras e mais com comunidades que celebram a anorexia, a autoflagelação ou teorias da conspiração. Esses grupos agem atraindo pessoas com interesses comuns e que estimulam umas às outras a compartilhar fotos e vídeos sobre suas obsessões. Agindo assim, os comportamentos que os integrantes celebram acabam normalizados pela ação do grupo.
Ainda assim, Sajid foi alvo de um fluxo constante de propaganda por meio de redes abertas e mensagens privadas. Grande parte das informações era relacionada à perseguição de muçulmanos sunitas pelas forças de segurança no Iraque (país de maioria xiitas) e à vingança dos militantes do EI.
Postado por Radar