A falta de médicos para o atendimento na emergência do Hospital Regional de Santa Maria, provocou tumulto, quebra-quebra e porrada na noite de sábado (30/03). As cenas gravadas em vídeo revelam que a saúde pública do Distrito Federal ainda está longe para melhorar o atendimento da população que precisa de socorro
Por Toni Duarte//RADAR-DF
Situação desesperadora continua acontecendo no Hospital Regional de Santa Maria, embota tenha tido uma substancial providência na reposição de insumo farmacêutico, medicamentos e equipamentos. No entanto o “x” da questão esbarra na falta de médicos, principalmente, pediatras, principal pivô da revolta popular contra o hospital ocorrida no último sábado.
Dezenas de crianças, carregadas pelos pais, se acumularam na recepção do HRSM. A lista pregada na recepção apontava a presença de médicos de plantão, mas a fila não andava. O desespero das crianças e a revolta dos país resultaram em quebra-quebra e enfrentamento contra os seguranças da unidade.
Em levantamento feito pelo Radar, falta médicos pediatras na rede pública de saúde do DF.
A escassez fez com que o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IGESDF), que incorporou desde de fevereiro o Hospital de Santa Maria, tomasse providência de organizar um processo seletivo no eixo Minas/Rio/São Paulo, inclusive aumentado o nível salarial, como forma de atrativo para a especialidade.
Hoje, o salário inicial é de 14 mil reais, valor recusado por pediatras de outras estados.
No entanto, tem algumas pedras no caminho difícil de remover. O Conselho de Saúde do Distrito Federal (CSDF, instância máxima de deliberação do Sistema Único de Saúde (SUS), composto por representantes de entidades e movimentos representativos de usuários do DF, além entidades representativas de trabalhadores da área da saúde do DF, não admite a contratação de médicos de fora, com melhores salários.
O Conselho alega que haverá disparidade com o salário do médico estatutário.
Um médico da Secretaria de Saúde do DF, ganha 25 mil reais com 25 anos de trabalho. Além do mais, o CSDF alega que o Instituto é misto.
Não é apenas com a escassez de pediatras que a rede pública de saúde do DF se defronta. A contratação de anestesistas é outro problema.
Para aderir à Cooperativa Dos Médicos Anestesiologistas do Distrito Federal, o contratante terá que pagar 1 milhão de reais e pagar um salário, em média, de 70 mil reais ao profissional.
O Hospital de Base, por exemplo, tem uma carência de 17 anestesistas, o que representa uma defasagem de 30%.
Enquanto o Ministério Público do Distrito Federal não sai da toca, para investigar e tomar providencias sobre o porquê da rede hospitalar da iniciativa privada não deseja que a rede pública funcione, a população coberta pelo SUS vai continuar sofrendo e morrendo na ponta.
Aliado a esta situação de coas está a farra de “atestados médicos” para os próprios médicos da rede pública.
No sábado do carnaval passado, por exemplo, havia sido escalada uma equipe de oito médicos no HRAN. Seis deles entraram com atestado médico neste dia da folia.
A comissão de verificação de atestado médico é presidida pelo médico e presidente do Sindmédico- DF, Gutemberg Fialho.
O nível de ausência de trabalho no DF chega a 12%, segundo estimativa da própria Secretaria de Saúde.
Nessa marcha, uma rede com 35 mil funcionários na saúde, cerca de 4 mil profissionais deixam de trabalhar por estarem de atestado médico.
O problema não é dinheiro para botar a saúde no eixo. O orçamento é de R$8 bilhões anual. Na visão popular falta comprometimento, principalmente da categoria médica.
Boa parte faz cara feia quando são escalados para trabalhar em hospitais como o de Santa Maria, Gama e Riacho Fundo II. Se o profissional tem que fazer 30 consultas ele só faz 10, e estamos conversados.
A revolta popular que aconteceu no Hospital de Santa Maria, no sábado passado, pode se estender pelo resto da rede, caso a saúde continue como nos últimos quatro anos.