Durante boa parte do século XX, a palavra “desenvolvimento” esteve presente no vocabulário político e econômico dos países em desenvolvimento. Até meados da década de 1980, o Estado jogava um papel central para se alcançar o tão sonhado “desenvolvimento”.
A partir do final da década de 1980, a agenda econômica internacional passou a ser orientada pela ideia de liberalização econômica e financeira. Seria a abertura internacional dos países emergentes que faria com que estes alcançassem os níveis de desenvolvimento e riqueza dos países ricos.
A maior integração econômica, financeira e comercial aumentou, indiscutivelmente, a riqueza global, mas não foi capaz de atenuar a desigualdade entre as nações.
Criou-se um sistema no qual um seleto de grupo de países dominou a produção tecnológica mundial, ao passo que a maioria permaneceu dependente de produtos de baixo valor agregado e à volatilidade de preços no mercado internacional.
Se, por um lado, a globalização fez o bolo crescer, ela continuou a cortar de maneira desigual cada pedaço para os convidados da festa, solidificando a tendência de desigualdade no desenvolvimento econômico internacional.
Atualmente, nos deparamos com o saturamento político e econômico da ordem internacional global. Os Estados Unidos, principal fiador desta ordem, agem em prol do desmonte das próprias instituições liberais internacionais. Potências emergentes, notadamente Rússia e China, propõem novas estruturas de organização do mundo, principalmente a partir dos BRICS+.
Esse processo, ao qual me refiro como “reglobalização”, possui grandes implicações para os países emergentes, uma vez que a reformulação das estruturas políticas, econômicas e financeiras internacionais lhes oferece novas possibilidades de desenvolvimento.
Parece-me que as possibilidades se expressam, atualmente, em três níveis distintos.
Em primeiro lugar, os países emergentes podem se beneficiar do modelo de cooperação internacional oriental guiado pela China, que tem oferecido uma cooperação baseada na construção de infraestruturas, e não numa relação de dívida, como tipicamente fazem as potências ocidentais (sobre este tema, recomendo a leitura da obra Killing theHost, de Michael Hudson).
Em segundo lugar, a partir do favorecimento das iniciativas de integração regional nos âmbitos comercial, financeiro e militar. Neste aspecto, o modelo europeu tem bastante a ensinar, principalmente no contexto da atual discussão acerca do reforço da integração regional face ao receio de guerra com os russos e de desagregação econômica dos países do bloco.
Por último, impõe-se a necessidade aos países emergentes de reduzir a dependência das cadeias de suprimento internacionais, relocalizando domesticamente setores industriais cruciais para o desenvolvimento nacional. Com a retomada do nacionalismo econômico nos países do centro do capitalismo global e após a pandemia de COVID-19, a sensibilidade política para implementar tais medidas aumentou.
A eficácia e exequibilidade dessas medidas não dependem da boa vontade dos principais atores internacionais em relação aos países desenvolvidos.
É necessário projeto e concertação política doméstica e internacional das nações emergentes para consagrar seus objetivos de desenvolvimento econômico e social, sem o que o salto econômico e de desenvolvimento não poderá se realizar.