No evento politico de filiação de Paula Belmonte ao PSDB, ocorrido na noite desta quarta-feira (3), o ex-governador José Roberto Arruda, ainda inelegível por sentenças da Caixa de Pandora, tomou o microfone e anunciou com voz de campanha:
“Eu, Paula Belmonte e Reguffe vamos juntos construir uma Brasília melhor”.
O ex-senador José Antonio Reguffe (Solidariedade), ao lado, permaneceu em silêncio absoluto.
Arruda carrega condenações que somam mais de R$ 559 milhões em multas e ressarcimentos, além de inelegibilidade confirmada pelo STJ até 2032.
Mesmo assim, apresentou-se como pré-candidato em 2026 e dividiu o mesmo palco o homem que sempre se vendeu como seu oposto moral.
Reguffe passou anos repetindo que era a antítese do governo Arruda: cortou assessores, renunciou verbas, denunciou supersalários e transformou a rejeição ao mensalão do DEM em combustível para sua votação histórica de 2010.
Naquele ano, ele surfou e tirou onda na prisão televisionada do ex-governador. “É triste ver Brasília estigmatizada pela corrupção”, dizia Reguffe em 2010, capitalizando o escândalo que mostrou Arruda recebendo maços de dinheiro.
Quinze anos depois, ele aceita dividir o holofote na noite de ontem, com o protagonista das fitas que derrubaram o governo mais corrupto da história distrital.
A plateia viu Paula Belmonte, recém-filiada ao PSDB, sorrir enquanto Arruda a abraçava e citava Reguffe como parceiro.
O ex-senador, que outrora se recusava a tirar foto com qualquer suspeito, agora posava ao lado de quem foi preso por comandar o esquema que ele jurou combater.
O eleitor que acreditou na campanha de R$ 143 mil sem caixa dois, que aplaudiu o discurso da moralidade absoluta, agora assiste perplexo ao ex-ícone da ética validar o retorno do maior símbolo de desvio no Distrito Federal.
A coerência virou pó em um único evento. Como Reguffe, que cresceu politicamente sobre os escombros da Caixa de Pandora, vai explicar aos seus eleitores que o vilão da corrupção agora é aliado de palanque?



