Radar/Opinião

*Por Caio Rafael Braga
*Por Caio Rafael Braga
Internacionalista com experiência em economia global
O ASSUNTO É

Disparada dos gastos militares: risco de guerra global?

Publicado em

O último balanço militar anual divulgado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos revela que o ano de 2024 registrou gastos em defesa da ordem de 2,46 trilhões de dólares americanos, com a quase totalidade das regiões do mundo incrementando seus gastos militares.

O valor histórico atingido nos gastos militares é resultado de um crescimento que vem desde a primeira metade dos anos 2010, segundo o mesmo Instituto.

Diante desse fato, o recorde mundial em gastos militares coloca no centro das discussões globais se um conflito mundial estaria em construção.

De fato, as relações internacionais nunca estiveram tão tensas desde o final da Guerra Fria como se encontram neste momento histórico.

O conflito na Ucrânia, que se prolonga desde 2014, a guerra no Oriente Médio e as tensões no continente asiático, notadamente no mar do Sul da China, são os centros de tensão internacional, os quais estimulam o incremento dos gastos militares das principais potências globais.

Estados Unidos, China, Índia, Rússia, França, Itália e Alemanha, por exemplo, passaram a injetar recursos significativos no desenvolvimento das próprias capacidades de defesa.

A principal razão para que tais gastos venham sendo incrementados desde a década passada é a disputa pelo poder internacional entre a aliança ocidental e o bloco oriental liderado por China e Rússia, que combatem a ordem liberal internacional nascida da Segunda Guerra Mundial.

A este fator subordinam-se as outras razões que explicam o incremento dos gastos em defesa.

A aceleração do desmonte das estruturas ocidentais de poder, notadamente a Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN), colocado em prática pelos governos de Trump, é, por exemplo, uma das causas do rearmamento das principais potências europeias.

Alemanha, França e Itália, diante da ameaça de saída militar dos Estados Unidos do continente europeu e do receio em relação às pretensões territoriais russas, não hesitam em aumentar de maneira significativa seus gastos militares para a construção de capacidades de defesa autônoma.

A geopolítica também joga um papel fundamental. O reavivamento militar do Japão, por exemplo, deve ser entendido a partir de uma necessidade de contrabalanceamento do poder chinês no continente asiático.

De igual modo, os programas nucleares do Irã e da Coreia do Norte devem ser vistos como iniciativas não só de reforço das próprias capacidades militares, mas também de combate à influência dos Estados Unidos e de seus satélites em suas respectivas regiões de operação.

Além das questões de curto prazo, investir no setor militar éum meio de incrementar suas capacidades tecnológicas e inovativas, elementos essenciais na corrida pelo poder mundial.

Desenvolver a própria indústria militar significa desenvolver capacidades tecnológicas e científicas próprias, produzindo bens que possuem uma utilização no setor civil e no setor militar.

Esse entendimento acerca do desenvolvimento de capacidades militares próprias é particularmente presente na China, cuja elite política vê a construção de um aparato militar autônomo e nacional como um dos meios para se alcançar a autonomia tecnológica e científica global, enfrentando, assim, a predominância estadunidense nesse domínio.

Diante desses elementos, uma Guerra-Fria 2.0 já é uma realidade internacional. O desmonte das estruturas de poder ocidentais e a aceleração da organização do bloco oriental, liderado por China e Rússia, são os fatores que continuarão a alimentar os esforços nacionais de incremento das capacidades de defesa.

Uma guerra de proporções globais não me parece ser uma realidade de curto ou médio prazo, mas, com toda certeza, observaremos a manutenção das tensões militares e o incremento do nível de insegurança global, mesmo que os principais conflitos internacionais atuais (Ucrânia e Oriente Médio) sejam diplomaticamente solucionados.

*Caio Rafael Corrêa Braga é Internacionalista. Pesquisador na Amarante Consulting. Morou e estudou na França, Itália e Alemanha. Atualmente encontra-se em Berlim e é articulista do Radar DF

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