Em 2018, o então governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), tentou demonstrar aproximação ao andar de carroça pelas ruas do Sol Nascente, uma das maiores comunidades periféricas do Distrito Federal.
O episódio ocorreu durante a campanha eleitoral, um movimento que parecia ser planejado para atrair a simpatia do então degastado governador.
Porém, a escolha do local causou indignação.
Pouco tempo antes, o então governo Rollemberg havia autorizado a remoção violenta de centenas de casas na mesma região e aproveitou para derrubar templos evangélicos da pobre comunidade.
As derrubadas ilegais praticadas pela ex-AGEFIS, incluíam, no mesmo pacote, as agressões, humilhações e prisões contra cidadãos que reclamassem de algum direito, deixando para trás famílias hipossuficientes desabrigadas.
Como pode alguém pedir voto do eleitor e, ao mesmo tempo, assistir de camarote o seu massacre?
Naquela eleição, a lembrança dessas tragédias ainda estava presente entre os moradores, que não se deixaram convencer pelo gesto de última hora de um governante que, mesmo chicoteando o povo, acreditava que permaneceria no poder.
Como consequência, Rollemberg não foi reeleito, o que muitos atribuem à falta de conexão entre as promessas de campanha e a realidade das políticas aplicadas durante a sua gestão.
Agora, a história parece estar se repetindo em uma nova versão, desta vez com Ricardo Cappelli.
Ele, que é presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e membro do PSB de Rollemberg, anunciou demagogicamente em uma rede social que planeja deixar seu “conforto de luxo” para morar por uma semana no Sol Nascente.
Carppelli quer fazer mais que Rollemberg: andar de carroças, almoçar e jantar todos os dias no restaurante popular pagando 1 real e morar de “goteira” na casa de algum morador.
A iniciativa foi apresentada por ele como uma tentativa de se aproximar mais da comunidade, já que nunca morou no DF e pouco conhece a sua população.
Ao se apresentar como possível candidato ao governo do Distrito Federal em 2026, Ricardo Cappelli aposta na estratégia semelhante à de seu companheiro Rodrigo Rollemberg.
A tática de se mudar temporariamente para comunidades carentes, usada por políticos oportunistas, visando se dar bem em uma eleição, levanta desconfianças sobre autenticidade.
Além de soar como jogadas de marketing, é considerado um deboche.
O Sol Nascente começou como uma ocupação irregular e sem grandes expectativas, sendo marcado por anos de abandono e falta de atenção do poder público.
Essa realidade, durante muito tempo, fez com que a comunidade enfrentasse desafios como precariedade na infraestrutura, ausência de serviços básicos e exclusão das políticas governamentais.
A partir de 2019, a região começou a ser beneficiada com a regularização fundiária e melhorias na infraestrutura.
Essas mudanças representaram um marco importante para os moradores, que finalmente passaram a deixar de ser invisíveis para as políticas públicas e a conquistar mais dignidade e acesso a direitos fundamentais.
Dessa forma, a história do Sol Nascente mostra que os votos da população não se baseiam em “macaquices políticas”, mas sim em compromissos reais.