Em 2007, um ano após ter tomado posse como governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda enviou um projeto de Urbanismo/URB para área tombada de Brasília à Câmara Legislativa, que morreu antes de qualquer debate.
Arruda caiu com o seu vice, um dos maiores incorporadores imobiliários do DF, Paulo Octávio, tragados pelo escândalo Caixa de Pandora sem completar o governo.
Na semana passada, Arruda se levantou do túmulo político em que estava para dizer que o novo Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), feito pelo governo Ibaneis Rocha (MDB), “provocará o adensamento urbano e que o Plano de Lúcio Costa não pode ser destruído”.
Se voltarmos a linha do tempo, o que diz Arruda hoje, não é diferente do que dizia em seus inflamados discursos o então senador Rodrigo Rollemberg (PSB), antes de se tornar governador do DF em 2014.
Da tribuna, Rollemberg bracejava contra o PPCUB do governo Agnelo Queiroz (PT), uma cópia do texto produzido pelo governo anterior, enviado em 2013 à Câmara Legislativa.
Rollemberg acusava Agnelo de querer lotear o Eixo Monumental e promover a concessão de áreas nas entrequadras para a iniciativa privada.
Também apontava que o governo petista queria mudar a destinação da quadra 901 Norte, além de criar a quadra 500 no Sudoeste e a implantação de um novo setor habitacional para 50 mil pessoas próximo à Rodoferroviária.
Rollemberg se dizia ter a impressão de que Agnelo estava se submetendo aos interesses da especulação imobiliária com a complacência de Geraldo Magela, então secretário de Habitação.
E dizia mais: que o documento mal elaborado pelo governo petista previa a construção de mais uma cidade, um núcleo urbano com prédios de até 27 metros, aleijando a área tombada pela Unesco como Patrimônio Mundial. Agnelo foi obrigado a recuar da proposta.
O então líder do PT, deputado Chico Vigilante, justificou que a decisão foi tomada a pedido dele.
“Quem mais combateu o PPCUB foi a turma do Rollemberg. O projeto não tem nenhuma ilegalidade, mas já que estão fazendo uma guerra política, pedi que retirasse. Quero ver a cara do novo governador quando enviar um projeto igualzinho em 2015″, disse o parlamentar na época.
Não deu outra. Em 2015, foi a vez de o próprio Rollemberg provar do mesmo veneno.
O pior governo da história do DF, copiou e colou o mesmo texto do antecessor. Era o mesmo do mesmo. Só mudou o carimbo.
Na época, a arquiteta Maria Elisa Costa, filha de Lúcio Costa, fez duras criticas ao governador Rollemberg e sugeriu a ele que mandasse o projeto do PPCUB para a lata do lixo.
O tiroteio foi tão grande que Rollemberg resolveu também desistir do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília após os deputados distritais devolverem a proposta.
Dezessete anos depois, uma proposta de cara nova foi apresentada em março desse ano pelo governo Ibaneis Rocha e aprovada no último dia 19 por 18 dos 24 deputados distritais.
Durante a sua tramitação pela Casa Legislativa, o novo plano foi alterado por mais de 100 emendas feitas por parlamentares.
O governo já se posicionou que irá vetar algumas emendas consideradas absurdas, como as de autoria da deputada Mazoni, que determinam a construção e alojamentos nas quadras 700 e 900 das asas Sul e Norte, incluindo hotéis e motéis.
Também serão vetadas emendas ao texto que autoriza a ocupação do Parque dos Pássaros, o que afastará a possibilidade de construção de um camping no local, além da permissão de comércio e prestação de serviços no Setor de Embaixadas e alteração de lotes na W3 Sul.
É bom que se diga que os vetos de Ibaneis não são por causa do bumbo tocado pela oposição ou pelos ex-governadores que não conseguiram emplacar o PPCUB durante as suas respectivas gestões.
Os vetos visam garantir um Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico que sane uma dívida histórica da classe política local com a cidade, e que adeque Brasília à modernidade e ao seu crescimento, sem descaracterizar os elementos que levaram ao tombamento e deram à capital federal o título de Patrimônio da Humanidade.
Gritar contra isso é choradeira dos que não tiveram coragem de fazer.