O deputado federal Fred Linhares (Republicanos) destinou R$ 5 milhões em emendas parlamentares à Associação Moriá para um programa de combate à dengue no Distrito Federal, por meio de “armadilhas de captura” conhecidas como ovitrampas.
O problema? Enquanto o mosquito Aedes aegypti zomba, ninguém sabe se a Moriá instalou ao menos uma armadilha no DF.
Os números impressionam e assustam. Considerando que cada ovitrampa custa cerca de R$ 10, os R$ 5 milhões poderiam adquirir 500 mil unidades.
Um infectologista da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, especialista em doenças infecciosas, afirmou ao Radar DF que 250 mil ovitrampas, metade desse total, seriam suficientes para capturar aproximadamente 15 milhões de ovos do mosquito em seis meses.
Com essa quantidade, seria possível cobrir os 1.000 km² de área urbana do Distrito Federal.
Apenas 100 mil ovitrampas, espaçadas a cada 100 metros, já seriam suficientes para combater eficazmente o mosquito Aedes aegypti.
No entanto, tamanha quantidade de armadilhas poderia criar outro problema: transeuntes tropeçando nas estruturas espalhadas pelas ruas, transformando a cruzada contra a dengue em um obstáculo inesperado para os pedestres.
E tem mais: com 250 mil ovitrampas, sobraria arsenal para proteger toda a área urbana dos 246 municípios de Goiás, incluindo Goiânia, com seus 739 km².
O Centro-Oeste poderia se tornar uma fortaleza anti-dengue, com armadilhas enfeitando até as praças de Anápolis — onde, aliás, a Moriá alegou ter atendido 3,5 milhões de jovens, numa cidade de apenas 398 mil habitantes.
O fato é que as armadilhas contra a dengue, até agora, ninguém viu. Seriam elas um prodígio da engenhosidade, capturando mosquitos invisíveis com armadilhas que só existem no papel?
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), não engoliu a história. Em junho, ele cobrou explicações da Advocacia-Geral da União (AGU), da Câmara dos Deputados, do Senado e do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre como esses milhões chegaram às mãos de uma ONG sem experiência em saúde pública.
Enquanto o mosquito da dengue voa livre, leve e solto, resta à Polícia Federal, com sua lupa investigativa, desvendar o mistério.