O caso de uma criança autista de 8 anos arrastada pelos braços por funcionárias da clínica Unika Kids, localizada no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) em Brasília, chocou a capital federal e reacendeu o debate sobre a segurança e o tratamento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em instituições especializadas.
As imagens, captadas por câmeras de segurança e divulgadas pela mãe da criança nas redes sociais, mostram uma psicóloga e uma fisioterapeuta arrastando o menino de forma agressiva, em um ato que o pai da vítima comparou a tratar a criança “como um saco de lixo”.
O episódio, ocorrido na quarta-feira (21 de maio de 2025), gerou revolta generalizada e expôs falhas graves no cuidado com crianças vulneráveis.
“A brutalidade contra uma criança autista não pode ser tratada com fianças irrisórias ou notas genéricas de esclarecimento. A justiça, a proteção e o respeito aos direitos das pessoas com autismo devem ser inegociáveis”, disse o deputado Eduardo Pedrosa (União Brasil) nesta sexta (23) ao Radar DF.
Conhecido por sua defesa dos direitos das pessoas com deficiência, especialmente autistas, o distrital foi enfático ao condenar o ocorrido.
Em uma postagem no X, ele classificou as imagens como “inaceitáveis” e criticou a postura tímida do Conselho Tutelar diante do caso, que, segundo ele, não tomou medidas à altura da gravidade do crime.
Pedrosa também anunciou que trabalhará junto ao Governo do Distrito Federal (GDF) para buscar a cassação do alvará de funcionamento da Unika Kids, exigindo sanções rigorosas contra a clínica.
As imagens divulgadas mostram o menino sendo arrastado pelos braços por duas funcionárias, identificadas como uma psicóloga e uma fisioterapeuta, durante um atendimento na Unika Kids.
A mãe da criança, Heloísa, relatou a imprensa que a cena era “inimaginável” e que as funcionárias tentaram minimizar o ocorrido.
Após a denúncia do pai, a Polícia Militar foi acionada e prendeu as duas mulheres em flagrante.
Elas foram encaminhadas à 5ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte, onde o caso foi registrado como maus-tratos.
Contudo, as suspeitas foram liberadas após o pagamento de fiança de R$ 3 mil cada, o que gerou indignação.
A liberação das funcionárias levanta questionamentos profundos sobre a efetividade do sistema de justiça em casos de violência contra pessoas vulneráveis.
Como uma criança de 8 anos, diagnosticada com TEA, pode ser submetida a tamanha brutalidade e seus agressores serem soltos mediante pagamento de uma quantia relativamente baixa?
A fiança, embora prevista em lei, parece insuficiente para refletir a gravidade do ocorrido, especialmente considerando o impacto psicológico e físico que o incidente pode ter causado à criança.
A Unika Kids, clínica especializada em terapias para crianças com TEA, emitiu uma nota afirmando que tomou conhecimento da detenção das duas funcionárias e que adotou “medidas administrativas” para preservar a integridade de sua equipe e auxiliar as autoridades na investigação.
Contudo, o caso expõe a necessidade de maior fiscalização sobre clínicas especializadas em atendimento a pessoas com TEA.
A ausência de transparência sobre os protocolos de treinamento das funcionárias e de supervisão dos atendimentos levanta dúvidas sobre a qualidade do serviço prestado.
A liberação das agressoras remete a uma percepção de que as sanções aplicadas à clínica e às responsáveis pelo ato podem não ser proporcionais à gravidade do ocorrido.
A divulgação das imagens nas redes sociais amplificou a indignação popular. A mãe da criança, ao tornar públicas as gravações, trouxe visibilidade a um problema que, infelizmente, não é isolado.
Casos semelhantes de violência contra crianças autistas em ambientes educacionais ou terapêuticos têm sido registrados no Brasil.
Em abril de 2025, por exemplo, uma criança autista foi agredida por uma professora em uma escola de São Paulo, resultando em ações judiciais e pedidos de cassação da licença da instituição.
Em outro caso, uma professora no Acre foi condenada por agredir uma aluna autista entre 2022 e 2023. Esses incidentes apontam para uma falha sistêmica no treinamento e na fiscalização de profissionais que lidam com pessoas com TEA.
O deputado Pedrosa, em sua atuação, destaca a necessidade de políticas públicas mais robustas para proteger pessoas com deficiência.
Sua proposta de cassação do alvará da Unika Kids destaca a gravidade do caso e a urgência de medidas que garantam a segurança dos pacientes.
A cassação do alvará, se concretizada, poderia interromper o funcionamento da clínica até que fossem implementadas melhorias, como a revisão de protocolos de atendimento, treinamento especializado para funcionários e auditorias regulares.
O Governo do Distrito Federal (GDF) tem a responsabilidade de fiscalizar instituições como a Unika Kids, especialmente aquelas que recebem recursos públicos ou atendem a populações vulneráveis.
A pressão de Pedrosa para que o GDF casse o alvará da clínica é um passo importante, mas é preciso ir além.
A criação de um sistema de monitoramento contínuo, com canais acessíveis para denúncias e auditorias surpresa, é essencial para evitar que casos como esse se repitam.
O Conselho Tutelar, criticado por sua postura “tímida” no caso, também precisa rever sua atuação.
A proteção de crianças e adolescentes, especialmente aqueles com necessidades especiais, exige respostas rápidas e eficazes.
A demora ou a falta de posicionamento claro por parte do Conselho pode minar a confiança das famílias em instituições que deveriam ser suas aliadas.
O caso da Unika Kids não é apenas uma tragédia isolada, mas um alerta sobre a vulnerabilidade de crianças autistas em ambientes que deveriam ser seguros.
A sociedade brasiliense, com o apoio de figuras como o deputado Eduardo Pedrosa, deve exigir justiça para o menino de 8 anos e sua família.