O Ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, mal podia imaginar que, apenas duas semanas após assumir seu cargo, estaria enredado em uma narrativa de fuga e perseguição que tem feito seu sono tornar-se um artigo de luxo.
O ministro não dorme mais.
A fuga audaciosa de Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça do presídio federal de segurança máxima de Mossoró pode se tornar uma mancha em sua gestão ministerial e uma afronta pessoal.
Ricardo Lewandowski enfrenta o dilema de uma caçada sem resultados, no estilo gato e rato, depois de se aposentar como ex-superministro do Supremo Tribunal Federal, onde por longos anos decidiu sobre solturas, prisões e condenações de perigosos chefões do crime que atuam no país.
Com um toque de ironia, que a vida insiste em imitar a arte, a saga dos fugitivos “Martelo” e “Tatu”, alcunhas dos dois fugitivos, sugere ao imaginário uma escapada cinematográfica de um presídio de segurança máxima, que faz inveja as produções hollywoodianas, cujo custo desta produção real de Mocoró pode ultrapassar os R$ 100 milhões, financiado, infelizmente, pelos cofres públicos.
Com mais de 700 agentes mobilizados, a operação chega ao 18º dia sem êxito.
Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça continuam embrenhados na zona rural de Baraúna, no Rio Grande do Norte.
Em resposta à dificuldade da captura, Ricardo Lewandowski mandou dobrar a recompensa por informações que levem à prisão dos fugitivos para R$ 30 mil. Até agora, nada.
Os criminosos, ligados ao Comando Vermelho, têm histórico de crimes graves, incluindo roubo, latrocínio, homicídio e tráfico de drogas. São considerados da 1ª classe do crime no Acre.
A caçada realizada por enormes aparatos policiais a Martelo e Tatu, nas caatingas de Mossoró, remete a outra ocorrida em 2021 nos cerrados goianos, em que 300 policiais passaram 20 dias na captura do serial killer Lázaro Barbosa, de 32 anos.
No final da saga, Lázaro acabou fuzilado na troca de tiros em confronto com a força-tarefa na região de Águas Lindas de Goiás.
Diferente de Lázaro Barbosa, que era um psicopata sem ligações com organizações criminosas, os bandidos “Martelo” e “Tatu”, segundo as investigações, são ligados à facção Comando Vermelho, uma poderosa organização criminosa que atua desde o tráfico de drogas e armas até assaltos a banco, carros-fortes e sequestros.
Levantamentos realizados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que a saúde financeira do Comando Vermelho, liderado por Carlos Henrique dos Santos, conhecido como Carlinhos Cocaína da Cidade de Deus (RJ), é de R$ 1 bilhão por ano.
Perde em arrecadação para o Primeiro Comando da Capital (PCC), liderado por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso no presídio federal de Brasília.
Uma das dificuldades na prisão dos dois fugitivos de Mossoró é que, além de ter contado com a ajuda de agentes do presídio na facilitação da fuga, (declaração feita pelo presidente Lula), os bandidos contam agora com o apoio do Comando Vermelho, segundo informações da força-tarefa de captura. Um misto de desmoralização e vingança contra a lei.
A verdadeira ironia da história de Tatu e Martelo está no fato de que, enquanto as autoridades lutam para capturá-los, os fugitivos parecem zombar delas, escondidos sob as asas protetoras do CV.
À medida que a história se desenrola em meio a caatinga de Mossoró, a pergunta que permanece é: poderia a justiça prevalecer contra a astúcia e os recursos de criminosos tão engenhosos?
Ou esta saga vai terminar como muitas antes dela, com os vilões desaparecendo nas sombras, deixando atrás de si apenas perguntas, custos exorbitantes e um ministro da Justiça lutando para recuperar seu sono perdido?
Somente o tempo dirá. Uma coisa é certa: esta caçada já está inscrita na história como um dos mais espetaculares jogos de gato e rato dos últimos tempos.
Um testemunho da eterna batalha entre a lei e aqueles determinados a viver fora dela.
O que acontecerá ao final dessa operação é incerto.
Lewandowski vai continuar com insônia diante das evidentes falhas no sistema de segurança, que não é um fato isolado, embora ele tente tapar o sol com uma peneira.