“Conheço cidadãos cassados, conheço grupos cassados, mas cidade cassada só conheço Brasília”.
A célebre frase é do ex-presidente da República, Tancredo Neves, dita em setembro de 1984, durante um debate, como ainda candidato, ocorrido na OAB-DF.
Brasília só veio conquistar a sua plena autonomia política quatro anos mais tarde com a Constituição de 1988.
Em 9 de janeiro de 2023, ou seja, 35 anos depois, o direito constitucional da capital federal, representada como ente federativo por oito deputados federais, três senadores e uma Câmara Legislativa composta por 24 deputados distritais, além de uma população de mais de 3 milhões de pessoas, é cassado, sumariamente, por uma canetada de um ministro do Supremo Tribunal Federal.
O afastamento do governador Ibaneis Rocha(MDB), reeleito democraticamente, em primeiro turno das eleições do ano passado, por quase 1 milhão de eleitores, não deixa de ser um golpe de Estado consumado, bem mais violento do que o não consumado golpe contra os Poderes da República, ocorrido no famigerado dia 8 de janeiro.
A medida extrema, tomada por nove dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, foi a justificativa para que o governante brasiliense fosse investigado sobre o manto do libelo da presunção de um suposto envolvimento dele, com os atos violentos do 8 de janeiro.
Apesar das investigações se aprofundaram, envolvendo todos os mecanismo de Estado, como os da Procuradoria Geral da República(PGR), da Polícia Federal, Controladoria-Geral da União (CGU) e Polícia Civil do Distrito Federal, nenhum indício foi encontrado de que Ibaneis, foi omisso, financiou ou incentivou o quebra-quebra contra o Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Suprema Corte.
Mesmo assim, Brasília segue como um navio sem o timoneiro, cujo comando é ocupado interinamente pelo imediato, ou “imediata”, como a vice-governadora Celina Leão(PP), que desprende esforço e competência diariamente para não deixar a embarcação perder o rumo.
Apesar do flagrante golpe, na sua autonomia política, poucos foram os atores políticos que contestaram a medida extrema do STF.
Não se viu também nenhuma manifestação do chamado Setor Produtivo, por meios de suas organizações. A Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), segue em silêncio sepulcral.
A Ordem dos Advogados do Brasil/ OAB do DF, também permanece muda.
Logo ela que serviu de palco de um debate, em 11 de setembro de 1984, quando o então candidato à Presidência da República Tancredo Neves, disse: “Conheço cidadãos cassados, conheço grupos cassados, mas cidade cassada só conheço Brasília”.
Há exatos 45 dias sem o governador reeleito, Brasília segue como cidade cassada, como chegou a externar um dos mais brilhantes defensores da democracia e da autonomia política de um ente federativo.
*Toni Duarte é Jornalista e editor do Radar-DF, com experiência em análises de tendências e comportamento social e reconhecido nos meios políticos da capital federal. Siga o #radarDF