“A experiência de Salvador Bispo, será a minha grande ajuda, o meu conselheiro que vai me auxiliar nessa nova etapa”. A frase é de Flávia Arruda, dita no dia 31 de outubro do ano passado, ao assumir o comando do PR-DF, três semanas após ter sido eleita deputada federal. Salvador Bispo nem sabia que seria defenestrado do partido após ter conduzido a legenda por muitos anos e de ter ajudado a eleger muitos, entre eles o ex-governador José Roberto Arruda, o dono do partido no DF. A situação provocou a debandada de filiados
Por Toni Duarte//RADAR-DF
“Partido que vive de diretório provisório é porque tem dono”. Foi dessa forma que Salvador Bispo, um dos mais experientes dirigentes partidários, com longa caminhada no cenário político da capital, definiu o Partido da República no DF.
“O dono aqui é Arruda”, resumiu ele em conversa com o Radar.
Desde a desistência de Jofran Frejat, de concorrer ao governo do DF em julho do ano passado, quando estava no topo das pesquisas, que feridas foram abertas no comando do partido de Arruda e continuam sem sarar.
Em primeiro lugar nas pesquisas, Frejat decidiu cancelar toda a sua agenda no dia 13 de julho, um mês antes do início da campanha, para reavaliar seu futuro.
O fato caiu como uma bomba no meio político já que se tratava de uma campanha vencedora.
O motivo seriam pressões de políticos que queriam esquartejar o governo antes mesmo do início da campanha oficial.
“Parece que algumas pessoas têm pacto com o diabo. Eu não vou vender minha alma ao diabo”, disse Frejat a época.
Nas entrelinhas da palavras de Frejat e sem apontar nomes, o diabo do cerrado que tanto criou problemas para que ele desistisse da caminhada era careca e vingativo.
Enigmático e cheios de mistérios, Frejat abandonou a corrida pelo Buriti deixando para trás significados implícitos que serviram de pano de fundo para a história apocalíptica da política brasiliense.
Diz alguns estudos bíblicos que dos dez diabos caídos do céu, que influenciaram a vida do homem na terra, o mais poderoso deles era Leviatã, o diabo careca, considerado o príncipe dos demônios.
Muitos crédulos de Brasilia sustenta que Leviatã não foi o único a despencar do paraíso e cair no meio do cerrado do planalto central logo em cima do quadrilátero da terra de Dom Bosco.
Deixando o mistico para trás o Radar procurou Frejat nesta terça-feira (19) para saber dele se vai continuar ou não no PR. O renomado médico disse que, pelo menos, até o presente momento ainda não pensou nisso. No entanto disse:
“Sobre o meu rumo ainda irei analisar com calma para saber qual é o caminho a seguir”, disse Frejat.
Ele lembrou que desde a sua desistência de concorrer ao Buriti nem Arruda, nem Flávia e nem ninguém do partido falou com ele. “Muitos ficaram insatisfeitos, outros adoraram”.
Outra cizânia significativa dentro da legenda, em pleno curso das eleições do ano passado, ocorreu no meio das duas candidaturas a deputado federal.
De um lado, Flávia Arruda, mulher do ex-governador, que disputava pela primeira vez uma das oito cadeiras na Câmara Federal. Do outro lado o veterano deputado federal Laerte Bessa.
Bessa acusou o partido de roubar o seu tempo de TV para dar a Flávia Arruda.
O deputado arrojado e ex-integrante da bancada da bala, preferiu acalmar a alma e entrar na justiça eleitoral para ter de volta o seu espaço garantido no tempo de TV do partido.
Flávia se elegeu, Laerte não. O deputado culpou o ex-governador Arruda de ter jogado contra a sua reeleição.
Em sua estréia eleitoral, Flávia Arruda (PR) foi a campeã de votos na bancada do Distrito Federal na Câmara. Ela se elegeu com quase 120 mil votos.
Daí pra frente foi um passo para se tornar a presidente do PR-DF, um plano traçado e bem planejado pelo ex-governador José Roberto Arruda que cumpre ainda a sua inlegibilidade por causa de alguns processos judiciais transitados em julgado.
Em conversa com o Radar nesta segunda-feira (18), o ex-presidente do PR-DF, Salvador Bispo, disse ter se sentido usado esses anos todos por Arruda e que foi descartado sem ao menos ser comunicado antes.
“Eu e minha equipe ajudamos a eleger Joaquim Roriz, ajudamos a eleger Arruda e botamos Jofran Frejat em uma condição de favorito para vencer as eleições do ano passado, mas ele desistiu” . E prossegue:
“A história política do PR, nos últimos dez anos, foi de uma trajetória vencedora”, diz o calejado dirigente partidário considerado um ” águia” na construção de nominatas que sempre elegeram deputados distritais, federais e governadores.
Salvador Bispo afirmou ao Radar que não possui mais ânimos para continuar nos embates políticos e que prefere cuidar da saúde no auge da vida.
No entanto, ele fez questão de pontuar que a sua destituição do cargo, de presidente do PR, deveu-se ao convite feito pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), ainda durante o governo de transição para que a legenda compusesse a equipe de governo.
Alexandre Bispo, filho de Salvador, que foi candidato a vice-governador na chapa de Frejat, bem como o secretário do PR Manuilson Machado, responsável pela coordenação de campo da candidatura Frejat, e da candidatura da própria Flávia Arruda, se filiaram ao PSDB-DF a convite do senador Izalci Lucas.
O PR do ex-governador José Roberto Arruda agora junta os cacos que restaram para lançar a própria mulher ao Buriti nas eleições de 2022.