Ao longo da história do desenvolvimento capitalista mundial, o controle de matérias-primas sempre foi essencial nas estratégias nacionais de desenvolvimento.
É difícil pensar que os Estados Unidos teriam alcançado o nível de riqueza e poder mundiais sem que houvessem controlado as diferentes etapas do ciclo de vida do petróleo.
Além disso, a China não se constituiria como o mais notável caso de desenvolvimento econômico internacional sem que dominasse matérias-primas e minerais estratégicos como o aço, o urânio e o lítio.
Nesse sentido, as chamadas terras raras e os minerais estratégicos, conjunto de elementos químicos essenciais para a transição energética internacional e para a 4ª Revolução Industrial, estão no centro da competição geopolítica internacional entre as principais potências mundiais.
A disputa em torno dos minerais estratégicos traz à tona não somente a centralidade dos minerais estratégicos para as potências capitalistas mundiais, mas, também, coloca em questão a relação entre os países do centro e da periferia do capitalismo mundial.
O primeiro aspecto dessa disputa se dá entre os atores centrais da política internacional, notadamente a China, os Estados Unidos, a Rússia e os países da Europa Ocidental.
O controle de terras raras e de minerais estratégicos é essencial na produção de energias limpas, na produção de materiais bélicos, como na produção de tecnologias avançadas.
Fica claro, portanto, que o controle desses elementos é essencial na competição por hegemonia mundial.
Por esse motivo, a União Europeia firmou parceria estratégica com a Ucrânia para exploração de minerais críticos.
Mais recentemente, o tema das terras raras e minerais estratégicos ganhou extrema relevância em razão do condicionante estabelecido por Donald Trump para a paz na Ucrânia: concessão das minas de minerais estratégicos para exploração dos estadunidenses.
De igual modo, a China coloca os minerais críticos no centro de suas preocupações geopolíticas e industriais (recomendo o trabalho de Sophia Kalantzakos).
Atualmente, o gigante asiático possui a maior capacidade de refino de materiais como lítio, grafite, cobalto, cobre e terras raras.
A importância estratégica dos minerais raros é também um fator de disputa geopolítica na periferia do capitalismo mundial. Particularmente, os continentes americano e africano estão no centro do desafio geopolítico imposto por esses minerais estratégicos.
O continente africano constitui um espaço geográfico estratégico como fornecedor primário de terras raras, cobalto, cobre, ouro, e urânio, além da sua importância como fornecedor secundário, como demonstram as minas de lítio na Nigéria.
No continente americano, as reservas de lítio e cobre, especialmente localizadas no Chile, são alvo de cobiça internacional, dada a centralidade desses elementos para a indústria automobilística elétrica.
Além disso, a Bacia Amazônica também ocupa um papel central nessa disputa, notadamente no que concerne às matérias-primas para a produção de bens e minerais estratégicos para a transição ecológica.
Os interesses em torno dos minerais estratégicos e a sua essencialidade na competição internacional fazem com que se construa uma complexa rede de interesses e de jogo de poder em torno da exploração desses elementos.
Na lógica dessa disputa internacional, cabe aos países em desenvolvimento condicionar a exploração de suas minas ao desenvolvimento local e nacional, não repetindo as dinâmicas de exploração econômica entre países ricos e pobres.
*Caio Rafael Corrêa Braga é Internacionalista. Pesquisador na Amarante Consulting. Morou e estudou na França, Itália e Alemanha. Atualmente, encontra-se em Berlim e é colunista exclusivo do Radar DF.