Investigação policial revela castigos impostos a idosos em asilo interditado que iam de privação de comida e água a agressões físicas. Cinco pessoas estão presas por tortura. Quanto mais a apuração avança, mais macabros ficam os momentos reconstituídos pela Polícia Civil sobre a rotina do Asilo Acolhendo Vidas, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A unidade que deveria proporcionar qualidade de vida a hóspedes da terceira idade era um verdadeiro porão de agressões, maus-tratos e tortura de acordo com relatos obtidos no inquérito que já coleciona 31 depoimentos.
Cinco pessoas estão presas, sendo quatro da mesma família, e os levantamentos que já foram feitos apontam que todas elas participaram pelo menos do crime de tortura. Sete mortes podem ter relação com essas agressões.
A Polícia Civil já tem fortes indícios de que pelo menos uma, de um idoso no mês de julho, foi causada por um quadro de desnutrição e desidratação compatível com uma semana sem água e sem comida.
Esse tipo de privação acontecia com frequência como castigo para os idosos, segundo a delegada Bianca Prado, que preside o inquérito.
A situação forçou a prefeitura local a fechar permanentemente a clínica, que já estava interditada, mas ainda abrigava internos.
A investigação começou na semana passada, quando três mortes ocorridas apenas no mês de julho levaram cuidadores de idosos a denunciar para o Hospital Municipal de Santa Luzia o caso.
Segundo a delegada, a unidade de saúde repassou as denúncias à polícia, que abriu inquérito e prendeu a dona do abrigo. Elizabeth Lopes Ferreira, de 47 anos, é considerada a mais agressiva no trato com os idosos, segundo depoimentos já obtidos.
“Os internos relatam que tinham como castigo privação de alimentos, banho frio e com baldes de água retirada da piscina. Na hora das refeições, se alguém derramasse comida levava bengaladas”, afirmou a delegada
Bianca Prado.
O castigo com privação de água e comida é o que pode ter levado à morte um idoso com quadro grave de desidratação, desnutrição e hematomas pelo corpo, que faleceu mês passado.
A polícia, agora, corre atrás dos demais prontuários relacionados a pelo menos sete mortes de idosos que viviam no Asilo Acolhendo Vidas. Se ficar comprovado que as torturas levaram alguém à morte, a pena pode chegar a 16 anos.
DINHEIRO
Entre os fatos que a polícia terá que checar estão até mesmo apropriação de dinheiro dos idosos. “A gente tem a viúva de um ex-interno relatando que, quando seu marido morreu, Elizabeth não entregou os documentos e retirou dois meses de aposentadoria depois da morte dele”, diz a delegada Bianca Prado.
O preço desembolsado por familiares para manter parentes no asilo variava entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, segundo a polícia.
Diário da dor
Veja exemplos de agressões e outras situações que já foram relatadas em depoimentos à Polícia Civil:
Castigos
» Idosos que deixavam comida ou objetos cair ficavam sem água e comida por períodos que podiam chegar a três dias
Agressões
» Pacientes também eram punidos com golpes de bengala, socos, pisões e tapas no rosto. Em um dos casos um idoso teve a cabeça pisada depois de cair no chão. Em outro, uma idosa foi agredida com socos nos seios
Apropriação de dinheiro
» Há relatos de que a dona do asilo retirou dois meses de aposentadoria de um idoso depois que ele morreu. A polícia investiga se a subtração era rotina
Coação
» Uma idosa disse ter se sentido ameaçada a assinar uma procuração que dava totais poderes à dona do asilo em seu nome
Mortes
» Sete óbitos podem ter relação com as torturas praticadas dentro do asilo, sendo três no mês de julho. Em uma delas, a Polícia Civil acredita que há fortes indícios dessa relação.
Com informações de em.com.br
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