A queda do viaduto do Eixão Sul acendeu o sinal de alerta para outros monumentos de Brasília, como a ponte JK, um dos principais cartões postais da capital, que se encontra sem monitoramento, e para a Barragem do Paranoá, que, segundo o Sinduscon, pode desabar em decorrência da falta de manutenção e pelo excessivo peso de veículos que passam por cima dela diariamente
Por Toni Duarte
As pontes são estruturas de alto custo de construção, reparo e recuperação. Quando carecem de intervenção por patologia, provocam grandes transtornos e um custo social incalculável. O investimento em ações preventivas, que consistem em técnicas de manutenção, deve ser prioridade para qualquer gestor de uma cidade.
Mas não é assim que o governo Rollemberg trata a Ponte JK, inaugurada em 2002 e que se tornou a principal via de ligação entre o Plano Piloto, Lago Sul e a região de condomínios onde vivem 70 mil pessoas e por onde passam 100 mil carros por dia.
Com seus 1,2 mil metros de extensão e com uma estrutura metálica sustentada por cabos de aço sobre o lago Paranoá, a ponte JK segue sem qualquer inspeção há mais de um ano por causa do fim do contrato de monitoramento com a empresa LSE Laboratórios de Sistemas Estruturais.
A empresa realizava esse serviço desde 2011, mediante contrato feito pelo GDF por meio da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap, no valor de R$ R$ 3.057.810,65, para monitorar, inspecionar, analisar e fazer o diagnóstico estrutural de um dos mais belos monumentos de Brasília.
O contrato se exauriu em 2016, e a Novacap não se interessou em renovar e nem contratar outra empresa para realizar o relevante serviço de segurança da ponte.
As milhares de pessoas que passam de carros por cima dela diariamente podem até não perceber, mas a JK pode está também ruindo.
A sala que abriga os computadores de monitoramento, que fica debaixo da ponte, continua fechada. Com este mecanismo é possível saber se algo fora do comum pode acontecer com a estrutura da ponte.
Em janeiro de 2011, a Ponte JK foi interditada devido a um desnível no piso, fazendo com que fosse liberada apenas para veículos leves, como carros de passeio e motos.
A velocidade permitida foi reduzida para 40 quilômetros por hora. Na época foi detectado um desnível de 3 a 4 centímetros.
Outro sinal de alerta feito pelo presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon), Luiz Carlos Botelho, é ainda mais preocupante para os mais de três milhões de cidadãos que habitam Brasília.
A barragem do Paranoá pode desabar devido ao excessivo peso de veículos que passam diariamente por cima de uma “currutela” construída há mais de 50 anos, estrutura que o GDF tem demonstrado pouca atenção.
Nos últimos anos não há indício de que a barragem tenha recebido alguma inspeção técnica mais aprofundada para medir o grau de corrosão de sua estrutura. A inspeção é feita pela CEB, que não possui expertise para monitoramentos estruturais.
Mesmo não admitindo de que há um grande perigo da barragem desabar, Rollemberg mandou abrir suas comportas nesta quinta-feira (08/02) para dar vazão às águas do lago em um momento em que o governo continua fazendo racionamento por causa da crise hídrica.
A CEB, órgão que administra a barragem, descartou que haja relação entre o alerta feito pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon) e a abertura das comportas.
O Paranoá é um lago artificial concebido, em 1894, pela Missão Cruls e concretizado com a construção da cidade, durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek.
O lago formado pelas águas represadas do Rio Paranoá, tem 48 quilômetros quadrados de área, profundidade máxima de 38 metros e cerca de oitenta quilômetros de perímetro, com algumas praias artificiais, como a “Prainha” e o “Piscinão do Lago Norte”.
O lago foi criado com o objetivo de aumentar a umidade em Brasília. Os bairros Lago Sul e Lago Norte derivam seus nomes do lago, cada uma ocupa uma das duas penínsulas.
Se a barragem desabar, segundo os ambientalistas, será um desastre de grandes proporções, com impacto ao meio ambiente igual ao ocorrido em Mariana, Minas Gerais, com o rompimento da barragem de fundão da mineradora Samarco, tragédia ocorrida na tarde de 5 de novembro de 2015.
Na situação catastrófica de um rompimento da barragem do Paranoá, as regiões ribeirinhas seriam devastadas pelas águas enquanto o coração de Brasília, no lugar do lago, viraria um imenso deserto de lamas e com seu ecossistema dizimado e difícil de ser recuperado nos próximos cem anos.
Procurado pelo Radar, o presidente da Novacap, Júlio Menegotto, admitiu que o contrato com a empresa LSE Laboratórios de Sistemas Estruturais, que fazia o monitoramento da ponte JK, acabou e não foi renovado.
Ele esclareceu que, atualmente, o monitoramento da Ponte JK é feito pela própria Novacap, que realiza o acompanhamento do local 24 horas por dia. No entanto, admitiu também que se faz necessário uma licitação urgente para a contratação de uma empresa especializada no ramo.
A “urgência” para a contratação de uma empresa especializada revela o perigo escondido nas estruturas da ponte JK que veio a tona com o desabamento do viaduto do Eixão Sul.
Quanto à barragem do Paranoá, cuja pequena ponte sobre ela tende a desabar, conforme observação feita pelo sindicato da construção civil e pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal, quem faz a inspeção é a própria CEB (Companhia Energética de Brasília), que não tem know-how para isso. Que Deus salve Brasília da atual má gestão!
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