A maioria dos candidatos que concorre ao Buriti nestas eleições, promete acabar no “primeiro dia do governo”, com o Instituto Hospital de Base, implantado desde janeiro deste ano pela atual gestão. No entanto, segundo a opinião do presidente do IHBDF, Ismael Alexandrino, tal medida pode ser um tiro no pé e uma enorme dor de cabeça para o governante que proceder dessa forma. Ele prevê que a rede de saúde pública do DF pode piorar ainda mais
Por Toni Duarte//RADAR-DF
Construído em uma área de 55 mil metros quadrados no coração de Brasília, o terceiro maior hospital do país, por onde circulam diariamente mais de quatro mil pessoas, além de seus 800 pacientes internados, não deixa de ser um saco de pancadas, mesmo na pele de um Instituto, desferidas pela maioria dos candidatos a governador que diz ter a fórmula para melhorar a saúde pública do Distrito Federal.
No entanto, a maioria que fala, pouco conhece ou fez qualquer visita, in loco, para conhecer e extrair uma convicção mais apurada se deve ou não manter o atual modelo de gestão do Hospital de Base, administrado por uma equipe de oito gestores nos últimos oito meses.
Eles tentam mudar a cara e o conceito no tratamento da saúde pública do DF na unidade hospitalar mais emblemática do DF: o ex-Hospital de Base.
Enquanto hospitais como os de Santa Maria, Gama e Taguatinga, além de todos os outros localizados nas regiões administrativas do DF, continuam sendo autênticas fábricas de óbitos evitáveis, o que revela as mazelas produzidas pelo pior governador da história de Brasília, o Instituto Hospital de Base, segundo afirmam seus gestores, aos poucos, vai saindo do atoleiro, deixando de ser um pardieiro como antes.
Médico em terapia intensiva, o presidente Ismael Alexandrino, um ex-oficial da Marinha do Brasil, se tornou executivo em gestão de saúde pela Fundação Getúlio Vargas com atuação no setor privado. Alexandrino também é concursado da Secretaria de Saúde do Distrito Federal há sete anos.
Como secretário-adjunto da pasta da saúde, foi ele que ajudou a criar o instituto dentro de um colegiado de gestores que passou por audiências públicas na Câmara Legislativa e foi coordenador geral da transição desse novo modelo de gestão.
“Não encaro esse novo modelo como um projeto político. O projeto pode até ter começado neste governo, mas o modelo do Instituto Hospital de Base, como um serviço social autônomo, vai além de um governo. Ele não é uma bandeira de A, B ou C. Ele é um projeto de Estado e de sustentabilidade para o SUS no conceito mais amplo possível”, destaca.
Ismael garantiu ao Radar que o atual modelo não tem custo nenhum para a população e que atualmente o IHBDF se relaciona com a Secretaria de Saúde por meio de um contrato de gestão de 20 anos, revisto anualmente com as metas e resultados a serem atingidos no mesmo formato que funciona o Hospital Sarah Kubitschek, entidade de serviço social autônomo, de direito privado e sem fins lucrativos.
Ele entende que a atenção primária é a ordenadora do sistema de saúde que precisa ser fortalecida, ao mesmo tempo da atenção terciária que está na ponta da pirâmide e que o Instituto Hospital de Base é o limite da potencialidade de todo o sistema.
Independente do discurso deste ou daquele político, da cara ou da cor deste ou daquele governo, Ismael diz ser um torcedor para que o IHB dê certo.
Para ele, do ponto de vista de gestão, esse é o modelo muito mais autônomo, ágil e flexível que vai ao encontro ao que recomenda o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada- o Ipea.
A lei 8.666/93 das licitações, que inicialmente foi criada para grandes obras de engenharia civil, no entanto, segundo a visão do gestor, falta agilidade e a inteligência que a saúde precisa, por exemplo, em um hospital de trauma como é o caso do IHB.
Na queda de braço travada na justiça, onde o Sindicato dos Médicos pediu que o regime jurídico do Instituto fosse mudado para fundação pública de direito privado, além das duas ações de constitucionalidades (Adin), feitas por dois partidos políticos do DF, o modelo foi mantido por um colegiado de 20 desembargadores em votação unânime.
Para Alexandrino, somente outro processo legislativo pode mudar a lei que criou o Instituto Hospital de Base e que a decisão monocrática de um juiz não muda nada pela perda do objeto.
Ele afirmou que os serviços terceirizados estão concentrados nos transportes de pacientes que antes eram feitos pelo SAMU que, na sua avaliação não é um ente adequado para essa tarefa e sim para realizar o atendimento pré-hospitalar.
Outra mudança que foi terceirizada é o transporte interno de maqueiros e padioleiros, diante da carência desses profissionais cada vez mais escasso no sistema público de saúde do DF.
“Não sou um terceirizador, embora ache que a terceirização deva ser feita de forma complementar e responsável”.
Sobre a folha de pagamento do Instituto Hospital de Base, Ismael Alexandrino fez questão de detalhar ao Radar sobre os valores pagos com os estatutários e celetistas.
O orçamento anual do IHB é de R$602 milhões, uma média de R$ 50 milhões por mês os quais 70% desse orçamento é gasto com pessoal. Os estatutários, na maior parte, o salário é maior do que os celetistas.
O diretor presidente do IHB explicou que o regulamento do Instituto se baseia em pesquisa salarial praticado pelo mercado privado.
Exemplo prático: um enfermeiro no início de carreira e que trabalha 40 horas, ganha na SES pouco mais de dez mil como concursado.
No mercado privado esse mesmo enfermeiro ganha R$ 2.700. Aqui no IHB, esse profissional ganha em média, R$4.200 reais.
“Aproveito para esclarecer ainda que o meu salário é de R$ 23. 623 e não o que chegam a espalhar por aí que o presidente do IHB ganha mais de 100 mil reais. Os salários pagos no IHB são bons, mas o que mais motiva os profissionais da saúde são as condições de trabalho”, apontou.