Alegando que a taxa de juros está alta e esse é o principal problema de nossa economia, transferem para o BC uma “culpa” que tenta encobrir as reais causas da desarrumação econômica que o país sofre e os aumentos de preços e inflação.
É importante salientar que o país atravessa um momento delicado desde a pandemia, quando estávamos num processo de reversão da curva e durante o governo Bolsonaro, onde Paulo Guedes se esforçou ao máximo para fazer os ajustes que ele entendia necessário, em paralelo a uma crise mundial provocada pelo vírus e seguida por um ano eleitoral conturbado e cheio de incertezas.
Toda a preocupação era de evitar um colapso econômico. Países atravessam problemas econômicos profundos.
O Brasil também tem os seus, mas alguns são afetados pela falta de ações que realmente surtam efeito na economia, e não nas pesquisas de opinião em relação ao desempenho do governo.
Qualquer economista sabe que medidas necessárias nem sempre terão a simpatia do eleitor, mas no futuro, serão lembradas como “algo que deu certo”.
Desde 1985, quando participo do mercado financeiro, foram diversos pacotes, medidas, planos e tudo que possamos imaginar para sanar um dos maiores inimigos do provo brasileiro, a inflação.
Mudança de moeda, retenção de poupança, congelamento de preços e inúmeras medidas e ações que “endoidavam”, sim literalmente deixavam a população sem norte.
Deixando de lado essa relação de eventos e voltando-nos para o presente, vamos ao que realmente interessa. Será Roberto Campos o responsável por uma taxa de juros elevada que “atrapalha”?
Recentemente no Senado, Roberto Campos Neto listou entre as causas de juros altos a “baixa taxa de recuperação de crédito”; a “baixa taxa de poupança”; a “dívida bruta acima da média”; a “percepção de risco”; e a “alta proporção de crédito direcionado”.
Campos Neto reconheceu que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tem direito de se manifestar sobre as taxas de juros, mas salientou que Banco Central não é culpado pelas mazelas que o país enfrenta.
Ele afirmou ainda que as reformas (em especial a fiscal, a tributária e, como defendeu, também a administrativa), o equilíbrio fiscal e as “contas públicas em dia” ajudam a diminuir os juros e que não “há nenhuma mágica, nenhuma bala de prata”.
Para o presidente do Bacen, o combate à inflação é o melhor instrumento social — “porque a inflação é um elemento muito corrosivo para os rendimentos dos mais carentes” — e não há definição de uma data para a queda dos juros, que acontecerá a partir de uma decisão técnica.
A autonomia do Banco Central foi estabelecida por lei em 2021, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Entre outros pontos, ela estabeleceu mandatos fixos para o presidente e para os diretores da autarquia federal, além de regras mais rígidas para a admissão e demissão desses dirigentes.
O Presidente da CAE e Senador (PSD-GO) Vanderlan Cardoso em 25/04/2023 declarou: Se tivesse independência o Banco Central poderia estabelecer, ele próprio, a meta de inflação a ser alcançada.
Não é o caso, nossa meta de inflação é definida pelo Conselho Monetário Nacional, controlado pelo Executivo. Cabe ao Banco Central perseguir tal meta. E sua autonomia se resume a decidir como aplicar os instrumentos à sua disposição. ¨(Fonte: Agência Senado)
Para relembrar o que aconteceu em outros governos fiz uma pequena pesquisa, vejam só o que encontrei.
O ministro do Planejamento do governo Dilma Rousseff em 2015, Nelson Barbosa, em entrevista ao Valor Econômico disse que a política monetária precisa ter a liberdade necessária para levar a inflação ao centro da meta.
“Neste momento é um remédio necessário para o controle da inflação”, afirmou em evento em São Paulo.
“Taxa de juro mais baixa não é feita por decreto, ela é construída. Se constroem as condições para que a economia possa operar com maior crescimento e menor inflação e taxa de juros mais baixa. E a principal condição para isso, no final das contas, é aumentar a produtividade”, avaliou.
Segundo ele, o Banco Central (BC) é a autoridade competente para tomar as decisões de política monetária, e a elevação da taxa de juros de curtíssimo prazo é necessária para controlar a alta dos preços.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também foi ministro do governo Lula em 2003 e Dilma em 2014, em matéria da Reuters, disse que o efeito negativo do aperto monetário sobre a economia, afirmando que o aumento do juro tem o aspecto benéfico de controlar a inflação, criando condições favoráveis para a atividade.
Segundo Mantega, uma inflação menor tem efeito positivo sobre a economia e, como consequência, pode permitir uma queda da taxa de juro de longo prazo.
Para finalizar, o que podemos observar? Que o discurso político não encaixa com a realidade, os economistas buscam resolver o problema e os políticos transferir a responsabilidade. É o futuro repetindo o passado, um museu de grandes novidades, o tempo não para, só o Brasil. Aliás, desmelhora!