Cansados de se arrastarem pelo vale de lama a procura de cadáveres os nossos heróis bombeiros são os únicos que choram a dor das mais de trezentas famílias que perderam seus entes queridos na tragédia de Brumadinho. O assunto começa a cair no esquecimento e os responsáveis pela tragédia anunciada ficarão na impunidade como os responsáveis pela tragédia de Mariana. No Brasil é assim
Por Toni Duarte//RADAR-DF
Oito funcionários da Vale presos, por decisão do juiz Rodrigo Heleno Chaves, na última sexta-feira (15), em ação envolvendo o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, podem ganhar liberdade ainda esta semana, caso o STJ conceda habeas corpus para os responsáveis pela rompimento da estrutura que causou a tragédia no município.
A história é a mesma. No início do mês, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça mandou soltar os engenheiros da empresa TÜV SÜD que atestaram que não havia nenhum risco de rompimento da barragem e que tudo corria as mil maravilhas.
Para as autoridades brasileiras, principalmente as do mundo político, a tragédia de Brumadinho já não é assunto importante a ser tratado pelos discursos ou pedido de investigações, instaurações de inquéritos, prisões ou aplicações de multas para punir os responsáveis pela maior tragédia humana e ambiental da história do país.
Para todos é vida que segue após o carnaval.
Duas semanas depois do início do ano legislativo, senadores e deputados não conseguem mais se entender sobre as investigações que pretendem fazer a respeito da tragédia.
Parlamentares que tiveram suas campanhas patrocinadas pela Vale fazem lobby contrário a instalação de CPI. Poucos ainda falam sobre o caso.
Até a instalação de uma CPI na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, estado que aconteceu a maior tragédia humana e ambiental do país perde força com a retirada de assinaturas.
O rompimento da barragem do Córrego do Feijão que aconteceu no dia 25 de janeiro deixando 166 mortos e 144 desaparecidos, aos poucos vai sendo enterrado na vala comum do esquecimento.
Foi assim com a tragédia de Mariana, provocada pela barragem de Fundão, ocorrida em 5 de novembro de 2015.
Em Mariana, os mais de 55 milhões de metros cúbicos de lama soterrou uma cidade inteira, a de Bento Rodrigues, transformando em escombros aquilo que eram casas.
A lama produzida e armazenada pela mineradora Samarco, empresa sócia da Vale, desceu de rio abaixo avermelhando e poluindo 853 km do Rio Doce.
O impacto ambiental foi gigantesco: além da contaminação da água e soterramento de nascentes, milhares de peixes e outros animais morreram. Cerca de 1,2 milhões de pessoas tiveram as suas vidas afetadas.
Três anos depois da tragédia de Mariana, o processo criminal contra supostos responsáveis ainda corre na Justiça Federal e ninguém nem fala mais nisso.
A Justiça Federal em Minas Gerais suspendeu temporariamente a ação que investigava a ruptura da barragem da Samarco e o processo corre o risco de ser anulado a pedido da defesa.
No total, 21 pessoas acusadas de provocar inundação, desabamento, lesão corporal e homicídio com dolo eventual, respondem o processo em liberdade.
Quanto a Brumadinho o caminho será o mesmo. Após o carnaval ninguém mais ouvirá falar sobre a tragédia que abalou o mundo onde existe quase 150 pessoas ainda desaparecidas.
Essa dor pertencerá apenas as famílias que perderam seus entes queridos e aos nossos heróis bombeiros que resgataram cada corpo sem vida.