Crianças refugiadas em São Paulo têm encontrado na música uma maneira de superar as difíceis lembranças do passado. Nas tardes de domingo, elas se encontram para os ensaios de um coral que se prepara para fazer apresentações públicas na capital paulista e no Rio de Janeiro já no mês de novembro.
Desde março, as 65 crianças têm dado vida aos jardins do Museu da Imigração, no Brás. Tão logo elas passam pelo portão de entrada se dispersam correndo de um lado para o outro. Sem espaço para brincar em casa ou nos abrigos onde moram, o contato com a natureza fascina esses pequenos que deixaram para trás países em guerra, perseguições políticas e muita tristeza.
“Eles gostam muito de cantar, mas, se não puder brincar no jardim, esse encontro não vale a pena. Eles têm uma relação muito especial com tudo que pode representar a liberdade”, observa a atriz Vivianne Reis, de 35 anos, responsável pelo coro infantil Coração Jolie.
As crianças, que têm de 3 a 12 anos, vêm de lugares como Síria, Congo, Jordânia, Palestina,Angola e Sudão. E, espontaneamente, elas formam grupos de acordo com a língua que falam. As crianças são divididas em dois grupos para o lanche da tarde. As sírias brincam no jardim enquanto as de países africanos lancham. Só depois se reúnem para cantar.
A dor e o medo que viveram no passado parecem deixar ainda vestígios. Durante os ensaios, alguns ficam com o olhar perdido, mas rapidamente voltam a cantar. A língua não é barreira. Lado a lado, entre um verso e outro, escapa um carinho, um beijo. A euforia de estar em grupo também é inevitável, por isso, ordenar o grupo para o ensaio não é tarefa fácil e exige bastante energia dos voluntários.
O domingo (4) foi um dia atípico para o grupo, que arrecada doações através de uma página no Facebook. Por conta do Dia das Crianças, brinquedos foram distribuídos por voluntários. E foi com os ursos de pelúcia nas mãos que eles ensaiaram e improvisaram uma apresentação para a equipe de reportagem.
Nesse domingo também começaram a aprender “Azul da Cor do Mar”, clássico de Tim Maia. Entre as músicas que já compõe o repertório do grupo, está “Aquarela”, de Toquinho, que exige deles um esforço adicional para pronunciar tantas palavras novas para um vocabulário ainda limitado.
Postado por Radar