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AMARAL NETTO| O polêmico repórter de direita que descobriu o Brasil em cem mil horas pela TV

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Fidélis dos Santos Amaral Neto (Amaral Netto) nasceu em Niterói (RJ), em 28 de abril de 1921. Foi aluno da Escola de Marinha Mercante, trabalhou no cargueiro Alegrete do Lloyd Brasileiro até novembro de 1940, quando desembarcou no Rio de Janeiro.

Na capital, atuou na firma de exportação de tecidos de seu sogro e também no escritório de advocacia de seu pai. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, tornou-se jornalista, iniciando a carreira no Correio da Noite, dirigido pelo integralista Padre Helder Câmara.

Em 1947, rompeu com o Partido da Representação Popular – PRP de Plínio Salgado a quem considerava um grande homem. Em 1949, ao lado de Carlos Lacerda, foi um dos fundadores do jornal Tribuna da Imprensa.

Nos anos 50, com o pseudônimo de Georges Lamonte escreveu com Orígenes Lessa mais de 140 peças policiais e sobrenaturais na TV Tupi. O episódio História de além-túmulo de suspense e terror, de sua autoria, foi a estreia de Fernanda Montenegro.

Em agosto de 1953, em contundente oposição ao governo do presidente Getúlio Vargas, participou, com o udenista Carlos Lacerda, da criação do Clube da Lanterna, cabendo-lhe a presidência da organização, sendo Lacerda o presidente de honra.

Em 19 de agosto de 1954, em meio à grave crise político-institucional devido à revelação do envolvimento de membros da guarda pessoal de Vargas no atentado da Rua Toneleiros — dirigido contra o deputado Carlos Lacerda no dia 05 de agosto, que resultou na morte do major-aviador Rubens Vaz — o Clube da Lanterna exigiu a renúncia de Getúlio Vargas.

Na sucessão presidencial de 1955, Amaral Netto apoiou o grupo do general Juarez Távora, opondo-se às candidaturas de Juscelino Kubitschek e de João Goulart, que julgava como herdeiros do getulismo.

Em 1955, Amaral Netto fundou a revista quinzenal Maquis, principal veículo do Clube da Lanterna, com estilo sensacionalista e de oposição ferrenha ao governo federal acusava o presidente Juscelino Kubitschek de lesar o Brasil em milhões de dólares, contava com uma plêiade de colaboradores, entre os quais: Alberto Deodato, Aliomar Baleeiro, Henrique Pongetti, João Agripino, João Duarte Filho, Paulo Duarte, Prudente de Morais Neto, Rafael Correia de Oliveira, o imortal Murilo Melo Filho e dos jornalistas esquerdistas Zuenir Ventura e Millôr Fernandes que participaram da edição nº 15 de 1956.

A revisita Maquis tinha uma marca: “A revista que não pode ser boazinha. Tão cara quanto a verdade.” Em 4 de novembro de 1961, publicou uma matéria contundente “Assim o comunismo comanda o espetáculo”.

Em 11 de novembro de 1955, o Clube da Lanterna teve sua sede invadida por agentes do Departamento de Polícia Política e Social (DPPS), acusados de conspiração contra a posse de JK e João Goulart.

Na ocasião, foi publicada uma edição de Maquis, reafirmando a posição contrária à posse dos eleitos denunciando o PSD e o PTB, por fazerem uma aliança clandestina com o ilegal Partido Comunista Brasileiro (PCB), que se abrigou sob a legenda do Movimento Popular Trabalhista.

No governo Juscelino — o Clube da Lanterna pautou sua atuação por ataques sistemáticos ao governo principalmente ao general Lott, então ministro da Guerra. Em setembro, Maquis teve a sua edição apreendida por ordem do chefe de polícia do Distrito Federal, que considerou a capa da revista ofensiva ao general Odílio Denis, comandante do I Exército.

Em 24 de novembro de 1955, o Clube da Lanterna foi fechado por meio de um decreto autoritário de Juscelino, atribuindo ao Clube a crise políticomilitar que o país atravessava, nessa ocasião Amaral pediu refúgio na Embaixada da Costa Rica.

Continuando a sua pregação oposicionista, Amaral Netto foi eleito deputado estadual pela UDN na Guanabara obtendo 37 mil votos. Durante dois anos foi o líder do governador Carlos Lacerda na Assembleia Legislativa do novo estado.

Em 1962, desafiou o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, para um debate no programa de TV “Cidade sem máscara” na TV Rio. Brizola não compareceu. Em outubro de 1962, foi eleito deputado federal com 123.380 votos, o mais votado da UDN, tornou-se vice-líder da oposição, destacando-se pela virulência a política oficial do petebista João Goulart. Teve uma atuação destacada no movimento político-militar de 1964 contra o governo esquerdista de Jango.

Numa foto do Jornal O Globo de 14/04/64, o deputado Ranieri Mazzili afirmou: “Nesse abraço vai todo o reconhecimento de todos aqueles que sabem que a democracia lhe deve pela sua bravura e pela a sua coragem nestes dias dramáticos”, em alusão ao movimento cívico-militar de 1964.

Em 1965, foi preterido pelo governador Carlos Lacerda à sucessão estadual — o udenista optou pela candidatura de Flexa Ribeiro. Inconformado, Amaral Netto lançou-se candidato com o apoio do PL e obteve 40 mil votos que o colocaram num modesto terceiro lugar.

Com a instauração do bipartidarismo, por motivos regionais filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao governo militar, do qual assumiu a vice-liderança na Câmara em abril de 1966.

Ainda no MDB, foi reeleito com 35.821 votos no pleito de novembro seguinte, mas no início de 1967 deixou a sigla e ingressou no partido governista, a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Disse ao Jornal O Globo em 10/06/67 a respeito dos dois partidos: “o nada e a coisa nenhuma”.

Em 1968, criou na TV o “Programa Amaral Netto, o repórter” onde era o produtor, repórter, personagem e vendedor de anúncios.

O programa jornalístico educativo era marcado por um forte tom de aventura, desbravamento, turismo e de exaltação das grandes obras do governo militar, como a hidrelétrica de Itaipu e a rodovia Transamazônica, e ainda mostrava as regiões longínquas principalmente de tribos indígenas, exaltando a cultura, as tradições e o folclore dos lugares.

Lançou também uma revista com o mesmo nome de grande sucesso editorial. Dizia que no seu programa de TV “a criança, em Copacabana, via o búfalo amazônico e as crianças indígenas podiam ver os prédios do Rio de Janeiro”.

Os programas em formato de jornalismo e documentário começaram a ser exibidos na TV Tupi por seis meses e, a partir de 1969, foram transmitidos pela TV Globo por 16 anos até 1985. Na fase final, mudou o nome do programa para “Brasil, terra da gente”.

Dentre os temas abordados no programa estavam: a Usina de Urubupunga, o Petróleo no Recôncavo baiano, o Quarup no Xingu (primeira vez mostrado na TV), a rodovia Belém-Brasília, a Feira de Caruaru, a empresa COPERSUCAR, a Angola, a Alemanha, o Atol das Rocas, a Festa do Círio de Nazaré, as Baleias, a SUDECO, as Cataratas do Iguaçu, a Ponte Rio Niterói e a respeito do Piauí um memorável episódio apresentado12/04/76. Usava a trilha sonora do filme 007 – You only live twice e comumente terminava com a música Aquarela do Brasil de Ari Barroso.

O programa da Pororoca foi reexibido em 30/05/1977 que guardo na minha lembrança infantil tendo na época alcançado 24 pontos no IBOPE. O programa tinha uma grande audiência de público.

O crítico de TV do Jornal Última Hora Artur da Távola, depois senador pelo PSDB/RJ, escreveu em 09/08/69: “Hoje é reprise. Amanhã às dez da noite o programa. Creio que da África. Excelente programa. Honra a TV carioca. Dois pontinhos: o som não anda lá grande coisa, verificar, e o Amaral está usando demais a primeirapessoa no singular. tirando esses pequenos detalhes, o resto é excelente.”

Utilizava os bordões ‘O que é bom está na Globo. Meninos, eu vi uma frase de Gonçalves Dias. No O Globo de 05/10/67 afirmou que a Frente Ampla com Lacerda, JK e João Goulart arrastaria o país para uma ditadura. Em 13 de janeiro de 1970, ganhou o Troféu Velho Guerreiro como melhor programa de reportagem do apresentador Chacrinha.

Em novembro de 1970, foi mais uma vez reeleito, obtendo a segunda maior votação na Guanabara. Em 1972, na comemoração do Sesquicentenário da Independência do Brasil produziu 1.500.000 exemplares do Jornal da Independência, a maior publicação jornalística de todos os tempos no Brasil, marca até hoje nunca igualada.

Em novembro de 1974, foi novamente reconduzido à Câmara. Com a morte de Carlos Lacerda, candidatou-se novamente à Câmara em 1978, mas obteve apenas uma suplência.

Com a extinção do bipartidarismo em 1979, filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS), legenda pela qual se elegeu para a Câmara dos Deputados pelo estado do Rio de Janeiro em 1982.

Em 1984, Amaral Netto sempre coerente apoiou a candidatura do deputado Paulo Salim Maluf do PDS, no colégio eleitoral para escolha do novo Presidente da República.

Na vice-liderança do PDS na Câmara, Amaral Neto fez oposição sistemática ao governo do presidente José Sarney, lançando a campanha “Eu era feliz e não sabia”.

Em março de 1986, Amaral Netto foi eleito líder do PDS na Câmara, no mesmo ano foi candidato a deputado federal constituinte, tendo como principal bandeira a implantação da pena de morte para crimes de sequestro, roubo e estupro. Foi o sétimo parlamentar mais votado no estado do Rio de Janeiro. Na Assembleia Nacional Constituinte a sua proposta de adoção da pena de morte foi rejeitada pelos constituintes.

Em 1989, apresentou o PL 1701/89 que estabelecia a maioridade penal aos 16 anos de idade, o primeiro projeto a respeito do assunto. Em outubro de 1990, é eleito para mais um mandato de deputado federal, votou a favor do afastamento do presidente Fernando Collor.

Foi candidato derrotado em 1992 à prefeitura do Rio de Janeiro, Amaral Netto defendeu a intervenção federal como medidas de combate à onda de violência que assolava a cidade e curiosamente no segundo turno declarou o seu apoio à candidata petista Benedita da Silva, disputa que foi vencida por César Maia do PMDB.

Na eleição de 1994, foi eleito mais uma vez à Câmara, em dezembro do mesmo ano sofreu um acidente automobilístico e licenciou-se do novo mandato, foi substituído pelo seu suplente o cantor botafoguense Agnaldo Timóteo. Dois meses depois, Amaral Netto morreu em 17 de outubro de 1995, na cidade do Rio de Janeiro. Trabalhou no Correio da noite, no Correio da Manhã, em O Jornal, no  Diário da Noite e na Gazeta de SP.

Criou e publicou “O Brasil em jornal” e “A História em notícia” com Gustavo Barroso e Jaime Coelho. Publicou ainda o livro a respeito da pena de morte e também lançou um disco em vinil “Como nasceu o Rio”. Pode ser considerado o pai do “Globo Repórter e do Globo Ecologia”.

O Arquivo Nacional guarda um acervo de mais de 2.000 horas de gravação do “Amaral Netto, o repórter” dentre elas do empresário Henning Boilesen presidente da Ultragaz antes de ser assassinado pela luta armada de esquerda em abril de 1971 e de uma matéria a respeito da Agropecuária Suiá Missú S/A de Barra das Garças – MT mostrando a propriedade rural com 22 mil cabeças de gado do empresário Sebastião Camargo com a trilha sonora de Tim Maia, É Primavera, e termina:” Esta é a Amazônia mato-grossense.”. Certa vez disse: “Nasci radical e vou morrer radical. Meu pior momento é quando tudo está temperado”.

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