Por Cherrin Fernandes:
“Scripta manent, Verba volant. Tanto nomini nulum par elogium”.
Cícero e De Sanctis.
Numa manhã de sábado no início do outono de 1975, eu morava numa Pensão da Voluntários da Pátria 1176 e recebi no Mocó de Santana uma visita surpresa do jovem maranhense Edgar Duarte recém-chegado a SP e também formado na Escola Técnica Federal do Maranhão. Colega de Anil e irmão do meu querido colega de Banda, Edivaldo Duarte, o querido Dentinho: hoje meu compadre.
Naquela solidão do Mocó de Santana conversou comigo até meio da tarde. Nunca esqueci sua visita e o seu gesto. Foi algo que me marcou. Em 1976, já no apto República 121, sua presença, alegria e ativismo político se tornaram marcas da sua forte personalidade entre os maranhenses e mesmo não maranhenses no boêmio Bixiga.
Nas empresas onde trabalhou jamais deu moleza ou inclinou a cabeça para nenhum gerente que cerceou sua liberdade de expressão ou os seus direitos:
– Isto convém ressaltar em plena ditadura militar.
Adeus, Edgar Duarte! Meu perene, digno e melhor amigo!
Amigo, desde as suas andanças às margens do bucólico Rio Anil nos idos dos anos 60! Vá em paz, Edgar, que nós na Terra continuaremos tua luta por um mundo mais justo e fraterno! Você deixou frutos.
Eu digo a todos presentes: – Ontem, a família dos espíritos lúcidos ficou mais vazia, ele foi forjado nessa estirpe de lutadores que são por toda a vida, como bem disse Brecht; esses que também jamais perdem a ternura como disse Guevara que neste ano teria completado 90 anos, e na alegria há um vazio que agora sentimos, a casa, o nosso mundo ficou mais vazio.
Nesses teus quase 66 anos de vida, nunca o vi triste. Os últimos 22 anos foram numa luta renhida contra uma esclerose múltipla que levou um ex-maratonista a uma cadeira de rodas.
Mas nunca, nunca ouvi de seus lábios uma reclamação, nunca se vitimou, admoestava seus médicos quando erravam, estudou muito sua enfermidade, lutou pelos seus direitos de cidadão e de cadeirante no âmbito pessoal e no âmbito político e ideológico foi um gigante ao qual tive e tenho o maior respeito e concordância, sem jamais perder o sorriso, a sátira cheia de risos que desarmava, a ironia fina e a graça sobre os adversários. Gostava muito de escrever crônicas sobre o cotidiano do Anil.
Era apaixonado pelos temas do Direito e crítico nas redes sociais e na vida quanto as injustiças e os Golpes políticos no Brasil. O Cocó da Ema e a Ingaúra perderam o filho mais combativo do Anil.
A doença perdeu seu maior adversário, pois ele a suportou com a cabeça erguida 22 rounds (anos), desde 1995, e eu perdi meu grande amigo nessa primavera de 2018.
Oh, setembro, setembro, sempre levando pessoas queridas da minha Vida.
Adeus, Edgar Duarte vou sentir sua falta, querido amigo. Que a tua descendência Edgar Duarte seja tão numerosa e virtuosa como as folhas do arvoredo, como bem nos disse Homero.
A minha gratidão, a minha solidariedade, os meus sentimentos a Lúcia, a Denise, Dennis, Dediane, Mirella, Larissa Duarte Coffani, Carolina, e perdão a caçula de Dediani e a nova filha do Dennis. Meu especial carinho a todos vcs e aos seus irmãos(as) e aos seus muitos amigos(a)s.
Vá em paz, querido amigo e irmão de Vida. Orgulho de ter sido seu contemporâneo.
Para Edgar Duarte que “viverá para sempre na minha memória”! (25 setembro de 2018).
J. Jesus Cherrin Fernandes
SP, 26 de setembro de 2018,
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