Um determinado vírus que já existe há várias décadas (há registros dele em 1960) sofreu mutação e nos dias de hoje tem movimentado o mundo inteiro.
O Covid19, já conhecido popularmente como Coronavírus é um dos assuntos mais falados do momento, e seus reflexos na economia mundial, serão sentidos pelos habitantes de boa parte do planeta por longo tempo!
Quando pensei em estudar o assunto com o viés dos impactos econômicos, a primeira palavra que me veio à mente é que estamos diante de uma dicotomia, que é a divisão de um elemento em duas partes, em geral contrárias, como a noite e o dia, o bem e o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno, entre outras…
No debate atual sobre a pandemia do COVID-19 temos esta divisão com a crítica à estratégia do isolamento social. Muitos criticam que os impactos econômicos do isolamento são maiores do que os seus benefícios em termos de saúde pública.
A sociedade, os gestores públicos e os gestores privados, discutem em vários níveis, se a eventual restrição de contato social deveria ser direcionada aos grupos de risco nesta pandemia, quais sejam, pessoas com mais de 60 anos de idade ou que sejam portadoras de doenças crônicas e portadores de comorbidade, definidos como um grupo a praticar o isolamento social vertical; versus se quem está em isolamento social horizontal, ou seja, o resto da sociedade neste momento deveria retomar a normalidade o quanto antes a fim de reduzir os impactos econômicos desta nova forma de “parada súbita”.
O termo “parada súbita”, se deve ao trabalho do economista Guillermo Calvo, estabelece como tem sido utilizado na literatura de crises financeiras para designar processos repentinos e intensos de fuga de capitais, normalmente associados a crises cambiais e de balanço de pagamentos.
Os defensores do “retorno à normalidade” argumentam que os óbitos causados pelo COVID-19 como proporção do total da população são inferiores àquelas mortes derivadas de outras causas e enfermidades ou processos sociais, como os derivados da falta de segurança, assassinatos, câncer e acidentes de trânsito.
E, por dedução óbvia e talvez por lógica, se a economia não costuma parar em função de tais problemas, não haveria de ser impedida pelo efeito de um vírus ainda menos letal?
No Brasil a economia ficou muito abaixo das metas de crescimento anual esperadas, desde 2014 nossos resultados foram pífios e até negativos, ao analisar a variação do PIB – Produto Interno Bruto, constata-se que em 2016 tivemos perda de [-3,35%] e infelizmente mesmo com alteração da curva de queda, os resultados dos três anos subsequentes não foram suficientes para igualar a considerável queda.
Em 2017 alcançamos [1,3%], em 2018 [1,1%] e com toda expectativa de novo governo e mudanças na área econômica, chegamos em 2019 em frustrantes [1,1%] .
Como leitor assíduo do Pitaco Rápido, criado pelo gestor público Paulo Antenor de Oliveira, onde afirma: “o Tesouro Nacional estima um rombo nas contas públicas da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e empresas estatais de 600 bilhões de reais este ano, o equivalente a 8% do PIB!”. Antenor ainda reporta:
“A taxa de desemprego no Brasil subiu para 12,20% no primeiro trimestre de 2020, atingindo 12,9 milhões de pessoas, informa o IBGE! O resultado apresenta alta de 1,3 ponto percentual na comparação com o último trimestre de 2019! A fila do desemprego aumentou em 1,2 milhão de pessoas!”
Nesse diapasão o economista VanDyck Silveira dispara: “Os pacotes anunciados nos últimos dias e semanas podem aliviar os estragos, mas o País vai cair em recessão. Com a quarentena persistindo até segunda-feira [11] o PIB será negativo entre 2% e 2,5%.
Caso se estenda por mais três semanas, calculo que a retração chegue a 5%.”! Segundo também VanDyck “Não existe dicotomia de salvar vida ou salvar a economia, uma depende da outra — e o Brasil pode sair arruinado da pandemia de Covid-19, caso a retração do PIB chegue a 5% e a taxa de desemprego a 20%.
Liberal convicto, ele afirma que em um cenário assim “os estragos são ainda imensuráveis” e que é preciso “parar de brigar por situações espúrias” e formar, de verdade, um gabinete de guerra”.
O isolamento social pode ajudar a reduzir a contaminação e, com isso, dar prioridade ao atendimento médico das pessoas que precisam trabalhar com vistas à preservação da vida de quem ficar doente. Ele é necessário exatamente para que a normalidade possa se restabelecer o mais rápido possível.
Mesmo com muitas incertezas sobre a doença no ar, os especialistas apontam para duas realidades: o risco de contaminação é muito alto, mas terrivelmente as taxas de mortalidade são baixas. Está evidenciado que a grande maioria dos infectados sofreram sintomas, pode-se dizer muito leves, parecidos com os da gripe comum.
Este argumento, que é corrente pelos defensores da “normalidade já!”, não pode confundir o fato de que, se as taxas são baixas, os números absolutos tendem a ser muito altos, com efeitos dramáticos sobre o frágil sistema de saúde não preparado para atender uma pandemia.
A condução de todo o combate a esta pandemia, depende sem dúvida de boas decisões do poder público e de respeito as indicações das providencias por parte da população em conjunto e com responsabilidade sobre a vida de todos. Precisamos fazer um grande exercício de trabalho em time, em equipe para o retorno à normalidade.
Este retorno deve considerar que os eventuais contaminados que apresentam sintomas leves ou mesmo os que não possuem sintomas talvez não tenham condições objetivas – dada a desorganização dos diversos sistemas econômicos (abastecimento, transporte, comunicações principalmente) – e condições subjetivas (especialmente os impactos psicológicos) de retornar ao trabalho.
No Brasil registrou-se nesta primeira segunda-feira, 04 de Maio, um total de 107.780 casos confirmados, no balanço são registradas 7.321 mortes, com um acréscimo de 263 em 24 horas. Com a contaminação crescente é difícil de supor que a vida econômica e social poderá seguir seu curso natural se, mantidas as proporções atuais, 4% dos infectados apresentam sintomas graves e, com isso, demandam atenção intensiva de recursos médicos e hospitalares, equipamentos de apoio à respiração, inclusive leitos de UTI e demais recursos básicos?
Há tempo de se pensar em grupos de excepcionalidade, mas com vistas à manutenção da paz e da ordem social. A preservação do ganho, da renda, particularmente das pessoas que dela mais necessitam, será vital para evitar um processo de contaminação de empobrecimento geral da sociedade ao pensar na questão econômica. Sem renda, o consumo das famílias vai desabar, pressionando ainda mais o caixa das atividades econômicas, que serão forçadas a demitir, o que fatalmente irá reduzir a massa dos rendimentos do trabalho, irá gerar nova pressão sobre as empresas e assim gradualmente.
Os economistas já descobriram – pelo menos desde a Grande Depressão dos anos 30 – e estão adotando na prática agora, em tempos de depressão o gasto estatal para preservar a economia é questão de vida ou morte. E desculpem, sendo prático, isto não é uma opção ideológica!
Faço aqui uma inferência, interpretando que os “normalistas” que falam em retomada da ordem, semeiam uma profunda desorganização em potencial da sociedade que a duras penas tenta se organizar para conter as condições de atendimento no sistema de saúde, sistema este que é de suma importância lembrar que isto será útil para quem precisa e não pode ficar preterido, e esta pessoa pode estar a precisar, muito mais próxima do que você imagina hoje. Pense nisto!